14.3.11

I Encontro Nacional de Estudos sobre Quadrinhos e Cultura Pop

Os quadrinhos estão realmente com tudo. Além das 1as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, já comentadas aqui, teremos mais um evento acadêmico, desta vez sediado na região Nordeste. Trata-se do Encontro Nacional de Estudos sobre Quadrinhos e Cultura Pop, a ser realizado de 29 a 31 de julho no Centro de Convenções da UFPE, em Recife/PE.


O evento estará se realizando no mês de julho dentro do Super-Con, a maior convenção de cultura pop do Estado de Pernambuco e adjacências (também é realizado na Paraíba). O evento reúne fãs de animes, mangás, quadrinhos, dublagem e outras atividades, no centro de convenções da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. A ideia é permitir aos participantes não só o espaço acadêmico de reflexão e apresentação das pesquisas, mas vivenciar o próprio ambiente de análise.

Todos os interessados em participar (mesas-redondas, grupos de trabalho - GTs e comunicações livres) deverão enviar a ficha de inscrição e um resumo de sua proposta, conforme os critérios de regulamentação até 14/04/2011, para a avaliação por parte da Comissão Científica e posterior publicação nos Anais do Evento. Os resumos deverão ser enviados para encontrohq@gmail.com.

Para mais informações, visitem o site do evento aqui.

12.3.11

Entrevista com a escritora Marcela Godoy

Marcela Godoy é escritora, roteirista, professora e batalhadora incansável pela autonomia artística das histórias em quadrinhos. Dedica boa parte do seu tempo à nona arte, criando histórias, lecionando no curso Técnicas de Escrita e Composição para Histórias em Quadrinhos na Quanta Academia de Artes, traduzindo obras para a Devir Livraria e assessorando novos e veteranos autores na participação de editais de fomento à cultura, como o ProAC, do qual já consta com boa experiência, com 3 títulos publicados.

Autora dos romances O Primeiro Relato da Queda de um Demônio (Devir, 2004) e Liah e o Relógio (Devir, 2009). Como roteirista, publicou as revistas Schem-Ha Mephorash (independente), em parceria com Sam Hart, e indicada ao HQ Mix 2007 na categoria de Melhor Publicação Independente Especial; e Sete Segundos de Eternidade, ilustrada por Thiago Cruz.

Participou do álbum Quebra-Queixo Technorama Vol. 2 (Devir, 2005) com o roteiro da HQ "Virá que eu Vi", ilustrada por Julia Bax. Participou do projeto Cidades Ilustradas – São Paulo (Editora Casa 21), escrito e ilustrado por David Lloyd, contribuindo com a pesquisa fotográfica, tradução e assessoria editorial ao autor e editor do livro.

Traduziu os quatro primeiros álbuns da série Sin City, de Frank Miller, relançados pela Devir Livraria em 2004 e 2005. Também traduziu para a Pixel Media os álbuns Reino dos Malditos, Crimes Macabros, O Traça, Jingle Bella e Cem Balas.

Em parceria com Eduardo Ferigato, publicou o álbum em quadrinhos Fractal, de 72 páginas. Este projeto foi um dos vencedores do edital promovido pela Secretaria de Estado da Cultura do Governo de São Paulo, e foi lançado pela Devir.

Mais informações a respeito da profícua autora podem ser encontradas em seu blog, clicando aqui.


1) Desde a década de 90, os quadrinhos vêm caminhando lentamente para o seu reconhecimento no Brasil. A princípio eram rebaixados como arte menor para depois serem constantemente  comparados à literatura. Hoje os quadrinhos lutam pelo seu lugar ao sol em um assento próximo aos das artes consagradas, mas impondo-se enquanto arte constituinte de suas próprias peculiaridades. Enquanto roteirista, como você vê essa relação dos quadrinhos com a literatura, artes gráficas e a narrativa?


Poxa vida... Vou tentar não me estender tanto ao responder, vamos lá... Penso que a graphic novel,  que é o modelo de HQ sobre o qual me baseio para responder sua pergunta, ilustra muito bem essa relação. A graphic novel representa a integração mais profunda entre texto, imagem e narrativa. Uma boa graphic novel tem um texto forte, bem escrito; uma arte condizente com o texto e com a proposta da novela, e ambos trançados harmonicamente por meio da narrativa, ou seja, da 'contação' da história propriamente dita.

Saber explorar as linhas que vão colorir este bordado, tecido a partir dessa combinação indissolúvel entre texto e imagem, pode ser bastante complexo. É por isso que acho complicado encaixar a HQ no rótulo de literatura ou arte gráfica. Acho que a HQ transcende ambos ao trabalhar com as duas linguagens de uma forma muito rica e particular.

Para mim, trata-se de uma questão mais relacionada à construção da narrativa. Por narrativa, é importante esclarecer aqui, refiro-me à forma de contação de uma história, aos intrumentos e técnicas  textuais e gráficas  de que vou dispor para contar uma história. A HQ tem uma estrutura que pressupõe um exercício narrativo e uma composição narrativa diferenciada. O autor precisa ter uma visão de composição integrada para que o resultado não fique aquém da proposta pretendida. E aí entra a habilidade do roteirista ao conduzir a orquestra e a do artista ao executar os instrumentos.

Acho que esta é a razão pela qual, cada vez mais, os críticos e teóricos têm prestado mais atenção às HQs, porque estão começando a compreender a complexidade desta estrutura. Trata-se de um modelo de composição que merece reconhecimento e que se destaca, sim, de outros gêneros. É uma arte que precisa se emancipar como gênero distinto, ou jamais conseguirá ser compreendida em sua totalidade.


2) Muitos artistas gráficos brasileiros de hoje se embrenham pelos quadrinhos, e muitos desenhistas de quadrinhos estão recebendo grande reconhecimento por parte da imprensa, da crítica e do público. Mas por que os roteiristas ainda não têm o mesmo espaço no Brasil?


Não creio que seja exatamente uma questão de espaço. Veja, um roteirista "vinga", normalmente, quando já associado a um projeto gráfico. É preciso haver uma proposta visual atrelada ao roteiro, entende? Nós, roteiristas, só existimos quando há uma HQ publicada com nosso nome na capa. Não vendemos roteiro na banca e não temos o "deviantart" de roteiro. Não existe um outro meio de divulgação de nosso trabalho que não seja a própria revista publicada, a história graficamente contada.

A arte gráfica, neste sentido, sai mais na frente ao ser autônoma, entende? Um desenhista de quadrinhos tem a chance de aparecer de outras maneiras. Por exemplo, fazendo a capa de uma revista ou romance, um editorial para uma revista, ilustrando um romance, publicando charges, fazendo pin-ups para um outro título que não o seu regular.

O fato é que os meios de exposição do trabalho do desenhista são bem mais favoráveis a ele neste sentido, nesta suposta aquisição de espaço. Você consegue identificar um talento para desenho numa avaliação de portfólio, por exemplo, isso já não existe para quem escreve. A "resposta" para a arte visual é mais dinâmica e instantânea, como a fotografia digital (eu ia dizer a Pollaroid, mas soaria jurássico). Olhou, gostou ou não gostou.

Com roteiro é diferente. Você não arruma sua pasta de roteiros e vai para uma avaliação de roteiros, onde um editor vai passar a noite lendo seu material para depois dizer no que você precisa melhorar, se já está pronto... Tampouco aquela coluna que você escreve regularmente faz grandes revelações sobre suas habilidades na construção de um roteiro ou como um contador de histórias graficamente representadas.


É neste sentido que eu digo que não se trata exatamente de uma questão de espaço. O roteirista fica dependente da quantidade de publicações que consegue emplacar. E há uma outra questão, complicadíssima, relacionada ainda à maneira com que as editoras, que não sejam editoras de quadrinho, procuram os artistas que vão produzir HQs para seu catálogo: em sua maioria, recorrem a aristas que sejam "autônomos" na composição. Não veem a HQ como estrutura que integra roteiro e arte, a partir, contudo, de um processo de composição independente. Então buscam autores que sejam capazes de produzirem as duas coisas.

Os editores  que não aqueles das editoras de quadrinhos, volto a dizer  ainda têm uma visão extremamente engessada sobre o que é HQ. Não têm a menor noção do que seja o processo de composição de um roteiro. Limitam-se a inundar o mercado com adaptações de tudo o que podem pensar, como se o universo estivesse desprovido de ideias comercialmente interessantes, com boa qualidade literária e gráfica, e que podem ser vendidos em massa para os programas governamentais de educação  o grande filão do mercado editorial do momento.  Isso, sim, é profundamente desanimador no contexto da sua pergunta.

Tive uma experiência recentemente executando um trabalho para o Quanta Estúdio de Arte, junto a um editor de uma grande editora, que foi muito peculiar. A visão dele de roteiro era a da página de quadrinho diagramada, com balões e espaços onde "vão entrar os desenhos", entende? Isso é muito, muito frustrante!

É por isso que, em questão de espaço, não há reconhecimento maior e melhor do que quando um artista chega para você e diz: "quero que você escreva a história que imaginei", ou "quero desenhar uma história sua". Ou quando seu editor liga dizendo que quer que você escreva uma história para um artista que você nunca conheceu, mas que conhece seu trabalho. Essa, sim, é a melhor sensação do mundo. Você sente que avançou uma casa no tabuleiro quando um artista ou editor reconhece o seu valor como roteirista e tira você para dançar.

As boas parcerias de composição nascem dessa forma, e aí esse espaço conquistado pelo roteirista junto ao artista/editor transcende-se ao chegar nas mãos do público como projeto realizado. E o reconhecimento do público só consagra essa sensação tão boa que você experimentou antes, lá atrás, no convite para o projeto nascer. O mesmo acontece quando a iniciativa parte do roteirista para o artista.

Então, acho que ganhar espaço escrevendo é isso. Ganhar primeiro o artista, depois o editor, e depois o público. Não há como ser diferente. E tem que publicar. Tem que publicar muito!


3) Muitos desenhistas brasileiros se destacaram trabalhando para o mercado estrangeiro de quadrinhos. Mas por que o mesmo não ocorre com os roteiristas nacionais?


Poxa vida... Isso depende muito do alvo para o qual você está apontando o dardo. Vamos olhar então para o mercado americano, quando você fala "mercado estrangeiro", ok?

De fato, muitos desenhistas brasileiros têm atenção e grande destaque por estarem trabalhando para o que chamamos de mainstream. Isso traz mesmo muita exposição e, merecidamente, reconhecimento, pois são artistas inegavelmente talentosos, muito competentes e inspirados. Tenho grandes amigos, de quem além de amigos, sou fã, que gozam dessa notoriedade. Não teria como ser de outro jeito. Se você trabalha para uma editora que vende um milhão de revistas, você vai ser conhecido entre um milhão de leitores. É simples assim!

Com roteiro, no entanto, a coisa é diferente. E se estivermos falando de mainstream, não vai acontecer, é simples assim. Primeiramente por uma questão de direitos autorais. Eu explico. Digamos que você tenha uma ideia genial para uma HQ do Batman. Você vai passar noites e noites escrevendo a "ultimate Batman's graphic novel", vai enviar à DC todo empolgado, pensando consigo "agora vão me descobrir!", e vai morrer esperando! Por que? Porque, contratualmente, os editores de qualquer editora do mainstream são terminantemente proibidos de ler qualquer material que não seja produzido dentro da própria editora. Isso está no contrato de trabalho deles. Sua ideia pode ser a melhor do mundo, não vai passar da expedição da editora.

Neste sentido, sua única chance de produzir algo para uma editora como essa seria se o convite partisse deles para você. E, diferentemente da arte, em que há avaliações de portfolio aqui e ali para a descoberta de novos talentos para o "pencil", para o roteiro não há. Você entra numa editora do mainstream como roteirista se algum editor ali conhecer seu trabalho como roteirista, ou se você tiver uma outra via de entrada, só que de dentro para fora. Em outras palavras, conhecer alguém de dentro que consiga levar sua ideia adiante sem que isso fira questões contratuais impostas a todos os editores, como a situação que eu exemplifiquei acima.

E aí você imagina quais as chances de um editor desses tomar contato com seu trabalho quando você não mora naquele país, aquela não é sua "mother tongue", você não tem nada publicado lá... Nem vale a pena almejar esse tipo de coisa. Há, contudo, editoras que publicam trabalhos de roteiristas estrangeiros, é claro. A Dark Horse é ótima neste sentido, pois mantém um processo ininterupto de avaliação de projetos, aberto a qualquer roteirista do planeta, é só acessar o site deles e ver as regras. Eles até podem se interessar em publicar a HQ com roteiro e arte, desde que você envie dez página arte-finalizadas, letreiradas e o roteiro inteiro acompanhando a amostra das páginas.

Então não tem nada a ver com reconhecimento, ou ser bom ou não, ou nada dessa convesa. Trata-se muito mais da sua disposição em escrever um material inteiro em outra língua, sem um projeto gráfico associado, e disponibilizá-lo para um número reduzido de editoras de médio e pequeno porte na esperança de que algum editor detro de uma delas vai "comprar" sua ideia a ponto de ir atrás de um artista para viabilizar a publicação.

Ou de você se juntar a um artista disposto a produzir dez paginas artefinazadas, coloridas e letreiradas a troco somente da possibilidade de seu projeto se destacar dentre os 'trocentos mil' que a editora recebe para avaliar regularmente. Basicamente, nesta hipótese, algo muito parecido com o que já acontece aqui no Brasil.

Francamente, eu já tive mais disposição para isso do que tenho hoje em dia. Essa questão tem muito a ver com a questão colocada na sua pergunta anterior também, entende? O roteirista que não desenha depende visceralmente do desenhista para ver seu projeto viabilizado. E isso não tem a ver com geografia. Aqui ou lá fora é a mesma coisa. Lá, no entanto, quanto ao mainstream, só se eles te acharem.


4) Por que escrever roteiro pra histórias em quadrinhos? Quem veio primeiro, a Marcela roteirista ou a Marcela escritora?


Nunca fiz muita distinção entre uma coisa e a outra. Quando penso uma história, tenho uma enorme preocupação com a narrativa que vou trabalhar, aquela que melhor serve à história que pretendo escrever, então logo decido se será por meio de HQ ou prosa.

Ao trabalhar a composição, penso sobre os aspectos que só funcionariam  ou que funcionariam melhor  se contados graficamente e aqueles cuja imaginação visual do leitor contibuiria para a qualidade da experiência da leitura. É assim que decido o formato da história.

Para mim, escrever é a questão central. Não consigo imaginar um roteirista incapaz de trabalhar em prosa. Ao mesmo tempo, acho que todo escritor que conheça as ferramentas de um roteiro de HQ pode fazer o seu próprio. Neste sentido, vejo-me muito mais como contadora de histórias e, para tanto, tenho que me valer das ferramentas narrativas que domino para fazer minha ideia virar alguma coisa sobre a qual valha a pena perder algumas horas de leitura.

Ver a prosa ou a HQ como um meio a serviço da contação da história, sempre levando em conta a participação do leitor na experiência que o mesmo vai tirar da leitura, faz com que a experiência de escrever seja igualmente diferenciada. Nunca acreditei que HQ fosse somente balões sobre imagens, desenhos com legendas, ou coisas assim. Isso significaria engessar tudo o que há  e que há de haver!  sobre as HQs.

Por isso, em minha opinião, não há como fazer juízo de valor comparativo entre literatura em HQ. Há histórias que são mais bem contadas em quadrinhos e outras que são mais bem contadas em prosa. Simples assim. Se pretendo trabalhar as duas coisas, como contadora de histórias, cabe-me saber em qual momento usar uma ou a outra.


5) Quais obras você sugeriria para um leitor não habituado aos quadrinhos?


Eu comecei pela Mônica e pelo Tio Patinhas. Aí larguei tudo por uns anos e só redescobri a coisa toda quando li Frank Miller pela primeira vez. Mudou o paradigma. Aquilo, pra mim, era uma outra coisa feita da mesma coisa que eu já conhecia, mas que, curiosamente, nunca havia estado ali naquela coisa conhecida de antes. Entendeu? (risos)

De toda maneira, eu gosto de usar alguns títulos em minhas aulas que talvez sejam indicados para quem quer "descobrir" as graphic novels. Então, para começar, eu diria: Watchmen, Asilo Arkham, Cavaleiro das Trevas, Sandman, Sin City - A Cidade do Pecado, Os Supremos... Por aí.


6) Dada a dificuldade em se trabalhar como roteirista de quadrinhos no Brasil, você considera que os editais de fomento à cultura, como é o caso do Proac, seriam a melhor saída para quem deseja ser publicado e ainda receber algum dinheiro por isso?


Não acho que seja a melhor saída, mas acho que é a única saída no momento! Pessoalmente, sou muito grata ao ProAc. Tive três projetos aprovados, e sem esse incentivo a realização dos trabalhos estaria definitivamente comprometida, impossibilitada.

Acho que a verba poderia ser melhor, considerando o custo de produção em gráfica somado ao trabalho de composição de roteiro e elaboração da arte. Se você não tiver uma editora por trás, não sobra muito dinheiro não.

Mas o ProAc ainda é "o" grande veículo de execução de um projeto, independentemente da verba. Seu valor agregado, como iniciativa e como "agente de execução", é muito maior do que o montante de dinheiro que o programa investe. E vem fazendo uma revolução aqui em São Paulo, o que é inegável e muito louvável! Não porque esteja financiando 10 HQs por ano, mas, principalmente, porque está forçando toda uma massa de artistas a se mexer, a produzir, a criar! Isso é maravilhoso!

A média de inscrições cresce substancialmente a cada ano. Sem falar no intercâmbio que o edital promove entre as pessoas que participam. Vi situações muito legais, que moveram participantes a se ajudarem para fazer um álbum acontecer, sabe? Gente que nunca se viu, que nunca se encontrou, mas que, gratuitamente, por solidariedade, estendeu a mão a um colega de edital para ajudá-lo a resolver um problema. Isso é muito legal. É muito importante. Eu participo e apoio essas iniciativas do Estado. Acho que deveriam haver mais e em escalas maiores.


7) Cada obra sua foi desenhada por um artista diferente. A cada novo trabalho você procura novos desenhistas? É fácil realizar essas parcerias?


Cara, eu sou é a pessoa mais sortuda do mundo, isso sim! Eu debutei tendo um livro ilustrado pelo Marcelo Campos, que é simplesmente um dos maiores monstros de HQ em nosso país. O Marcelo foi o grande responsável por meu ingresso nas histórias em quadrinhos, e aí você imagina o que é ter o apoio de um cara como ele, dentro de uma escola como a Quanta Academia.

Eu acabei conhecendo e fazendo amizade com artistas que nunca nem tinha sonhado em conhecer, alguns dos quais acabaram se tornando parceiros em projetos, como foi o caso do Weberson Santiago, Renato Guedes, Sam Hart, Thiago Cruz, Jefferson Costa... 

Difícil, na verdade, é lidar com a ansiedade durante o tempo em que um projeto está sendo feito! Eu tenho a enorme sorte de ter parceiros de trabalho maravilhosos, talentosíssimos e muito inspirados. E, exatamente por essa razão, são artistas extremamente ocupados! Então é preciso esperar a "entressafra" para poder produzir algo. Eu quase morro de angústia!


8) Você também dá aulas de roteiro para quadrinhos na Quanta Academia de Artes. As pessoas vêm se interessando mais pelos roteiros de quadrinhos? Você já conseguiu identificar novos talentos?


A procura ainda é bem menor do que eu gostaria, mas vem crescendo. Acho que todo esse crescimento da produção nacional vem estimulando mais o pessoal que não desenha a compreender que é possível fazer HQ sem saber desenhar!

Eu fico muito feliz a cada nova turma, mas me surpreendo ainda com a enorme dificuldade que muitos roteiristas iniciantes têm em entender que, antes de se aventurar a escrever uma HQ, é preciso se aventurar a escrever. Ponto.

O êxito do roteiro está, antes de tudo, na composição, que é um processo bem mais complexo e que pré-existe ao próprio roteiro. O roteiro mesmo, como ferramenta de conversa entre texto e arte, é só uma parte de um processo bem maior, e essa descoberta é, acredito, a parte mais gostosa do aprendizado.

A faixa etária aí é um componente importante. Geralmente são alunos mais velhos, com mais repertório cultural, o que ajuda muito tanto na fluência do curso quanto na descoberta e lapidação destes talentos. É muito, muito gratificante ver a transformação acontecendo!

Tenho tido sorte com meus alunos, porque tenho visto talentos inegáveis despontando. Alguns deles, se tudo der certo, devem publicar este ano pela primeira vez num projeto pioneiro da Quanta. O pessoal mais novo, contudo, em sua maioria, parece que não quer saber de escrever não. O negócio deles é desenhar o Wolverine!


9) Quais são as próximas novidades da Marcela Godoy enquanto escritora, roteirista e professora?


Vamos lá! Este ano vou lançar um livro infantil, meu primeiro!, intitulado O Menino e as Estrelas, ilustrado por Weberson Santiago.

Quadrinhos: por enquanto temos A Dama do Martinelli, ilustrado por Jefferson Costa. Essa HQ era pra ter sido lançada no ano passado, mas tive que me licenciar de quase todas as minhas atividades profissionais entre dezembro de 2009 e julho de 2010, e por isso tudo foi adiado para o ano seguinte  este ano.

Tenho alguns outros trabalho sendo lançados, como minha participação no álbum Zets (Devir, 2011), de Marcelo Campos, com lançamento marcado para dia 26 de março, na Livraria Martins Fontes, e também no álbum Fim do Mundo, também da Quanta, e que deve ser publicado ainda neste ano. Estou escrevendo três roteiros no momento que serão publicados, se tudo correr bem, no ano que vem.

Como professora: turma de roteiro no segundo semestre e, o mais legal!, pretendemos lançar, no final do ano, o primeiro álbum de um projeto que integra as turmas de Roteiro e Histórias em Quadrinhos da Quanta Academia. Vai ser ótimo! Você está nele, inclusive! (risos) [N. do E.: Que ótima e surpreendente notícia!]


10) Marcela, é isso. Muito obrigado pela entrevista e espero que tenha gostado. E sucesso para o ano de 2011.


Obrigada, Léo! Parabéns pelo espaço e todo sucesso para você também este ano.

Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos

Já estão abertas as inscrições para as 1as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, congresso que vai reunir diversos pesquisadores da área entre os dias 23 e 26 de agosto na Escola de Comunicação e Artes da USP da capital.

A iniciativa é do Observatório de Histórias em Quadrinhos da USP. A submissão de resumos de artigos deve ser enviada até o dia 31 deste mês, e aqueles que forem aceitos devem ser inscritos até o dia 31 de julho.


9.3.11

Tira à mão (ou não)

Essa tira de Renan Lima vem bem a calhar com o término da festa mais popular do nosso país em tempos de pseudo conscientização ecológica.

1.3.11

Entrevista com Bernardo Santana, editor da Panini

Bernardo e seu bigodinho latin lover
Bernardo Santana, jornalista, músico underground, fanzineiro e editor da Panini Comics, responsável pela revista do Superman, entre outras, nos concedeu essa entrevista e revelou algumas novidades da editora para os próximos meses, além dos rumos do mercado nacional de quadrinhos e do recente burburinho que a Nona Arte vem gerando. Mas chega de papo e vamos logo ao que interessa.

1. Há muito tempo não víamos tantos títulos em bancas como atualmente, não apenas de super-heróis, mas de gêneros variados. A que você atribui isso?

Só posso atribuir a algum aumento nas vendas, mas não tenho condição de afirmar isso com certeza. Talvez seja, na verdade, um crescimento do interesse das editoras, que veem os quadrinhos cada vez mais se tornando base pra filmes, seriados, animações, games, etc. Ou seja, o que pode ter crescido é a percepção do potencial de mercado do gênero, justamente por causa desse aumento de exposição de personagens e histórias clássicas. Também acho que o desenvolvimento das vendas de HQs em livrarias deu uma mãozinha aí.

2. Você considera que as adaptações cinematográficas de quadrinhos, tão em voga nos dias de hoje, contribuem para o aumento de leitores? Aliás, o que pode levar um leigo a se interessar por quadrinhos?

Com certeza! Tem muita gente que não concorda, mas eu não vejo como um filme que é campeão de bilheteria pode não aumentar a visibilidade de um personagem e dos próprios quadrinhos. Quanto ao que pode causar interesse, tenho comigo que é um lance de exposição mesmo. O moleque ter em casa um gibi largado num canto já basta pra causar interesse, por exemplo. Batman, Superman, X-Men, Homem-Aranha… Esses personagens são ícones da cultura contemporânea. O que falta é lembrar à galera que, ei, eles nasceram nos quadrinhos e estão lá até hoje!

3. A Panini iniciou seus trabalhos com quadrinhos aqui no Brasil com os super-heróis. Depois passou para os mangás, em seguida vieram os quadrinhos europeus, os da Turma da Mônica, depois os títulos voltados para livrarias e, por fim, as HQs adultas de selos como Vertigo e Wildstorm. Isso demonstra a versatilidade do público brasileiro? A Panini tem planos de alçar novos voos, apostando em novos gêneros?

Acho que demonstra uma pluralidade, sim. Se tiver boa divulgação e boa distribuição, as coisas dão pé por aqui. Isso apesar do nosso sistema de ensino – e, consequentemente, da desvalorização da leitura – lamentável. Quanto a novos gêneros, acredito que não vai rolar em curto prazo nada de muito diferente do que já está por aí.

4. Existem planos de retorno de publicação de materiais europeus? E quadrinhos brasileiros, a Panini pretende publicar algo?

Não pra nenhum dos dois. Pelo menos, não que eu saiba.

5. A Vertigo teve um histórico meio desastroso aqui em terras brasileiras, com diversas editoras que começaram a publicar determinados títulos e pararam no meio do caminho. Monstro do Pântano, Hellblazer, Preacher e Transmetropolitan são apenas alguns exemplos. Agora parece que a Panini vai contornar essa situação, para a alegria dos leitores. Afinal, a linha Vertigo realmente tem um público considerável aqui no Brasil? A vendagem da revista é satisfatória? E se há público, por que esse histórico de fracassos por parte das outras editoras?

Público existe, sim. O que a gente chama de “fracasso” também precisa ser relativizado. As tentativas louváveis das outras editoras de publicar material Vertigo acabaram criando um público leitor, de um jeito ou de outro. A coisa esbarrou muito em problemas de distribuição e falta de divulgação, eu acho. Quanto às vendagens, não tenho muito acesso, mas parece que vão bem, sim.

6. Com o término da linha Wildstorm nos EUA, como ficam os títulos do selo aqui no Brasil? O que podemos esperar pela frente?

Tem bastante coisa da Wildstorm que ainda falta sair por aqui. Authority, Planetary, as adaptações de games, só pra citar o que a gente mais recebe solicitação pra publicar. Aliás, o Ex Machina é da WS e vai muito bem. O sexto encadernado sai em março. Ou seja, a linha não vai ser interrompida aqui porque acabou lá fora.

7. Esta nova tendência de levar os quadrinhos às livrarias vem alterando os rumos editoriais no Brasil? Esta nova perspectiva é uma aposta por parte das editoras ou é reflexo do comportamento dos consumidores?

Com certeza muda as coisas! Eu não sou especialista pra discorrer muito sobre o assunto, mas só de ver a quantidade de títulos lançados todo mês, dá pra perceber que é um nicho interessante. Se é aposta ou resposta a uma demanda, eu chutaria que é a primeira, apesar de uma coisa acabar alimentando a outra.

8. Com o grande aumento de títulos voltados às livrarias, como ficarão as bancas de revistas? Você acredita que veremos uma queda na quantidade de produtos de bancas, aqueles com preços mais baixos e acabamento gráfico mais modesto?

Eu acredito que tem espaço pras duas coisas. A quantidade de leitor que chia quando lançamos algo em acabamento mais luxuoso, voltado pra livrarias, é praticamente a mesma daquela que nos elogia e pede mais publicações nesse modelo. Então…

9. A realidade brasileira de revistas em quadrinhos é bem distinta da que existe nos EUA. Lá são vendidos muitos espaços publicitários nas revistas e há uma grande preocupação com marketing, principalmente nos pontos-de-venda. Nunca se cogitou a possibilidade de se trilhar caminho semelhante aqui em nosso país? Há algo sendo feito para a captação de novos leitores?

Cara, não consigo responder essa com objetividade, já que os editores tem muito pouco a ver com o trabalho de marketing feito na e pras revistas. Sei que, de uns tempos pra cá, começamos a veicular alguns anúncios e que ações promocionais são feitas às vezes. Espero que elas funcionem conseguindo novos leitores! A percepção que dá pra ter é que muitas vezes recebemos emails e cartas de leitores bem jovens, o que é um sinal positivo.

10. Há algo de especial preparado para as edições de número 100 dos títulos Superman, Batman e Liga da Justiça que chegam agora em março?

A Panini preparou uma iniciativa muito legal e, se não me engano, inédita por aqui. As capas dessas revistas vão ser exclusivas do mercado brasileiro e assinadas por artistas daqui. Ivan Reis vai fazer a de Liga, Joe Prado a de Batman e Eddy Barrows a de Super. Além disso, o leitor que mandar uma arte própria (pode ser ilustração, foto, colagem, qualquer coisa… mas tem que ser feita pelo leitor!) e uma frase (de até 140 caracteres) sobre a centésima edição de alguma dessas revistas, concorre pra levar a arte original autografada de uma dessas capas. Os leitores que não ganharem, mas ficarem entre os 99 mais bem avaliados de cada publicação, levam um exemplar com capa alternativa, com as ilustrações em lápis. Pra participar, é só acessar o site da DC/Panini em web.hotsitepanini.com.br/dc.

11. Quais são as grandes novidades que podemos aguardar para 2011?

Uma coisa é certa: Preacher vai ser concluída em território nacional finalmente! No segundo semestre, deve chegar o encadernado de Álamo, último arco da série. Ainda na linha Vertigo, sai em breve Hellblazer: Pandemonium, com a volta do Jamie Delano aos roteiros das histórias de John Constantine. Pro lado da Marvel e da DC, posso dizer só que muita coisa relacionada a personagens que terão filmes em cartaz em 2011 vai sair. Então esperem material de Thor, Capitão América e Lanterna Verde a dar com pau!

12. Bernardo, muito obrigado pela entrevista. Desejo que a Panini permaneça com seu histórico de sucessos e que boas novidades continuem surgindo para todos os gostos.

Eu que agradeço em nome de todo mundo da Redação, e aproveito pra elogiar a iniciativa do blog, que está bem legal!