29.8.11

Entrevista com Waldomiro Vergueiro


Waldomiro Vergueiro é umas das sumidades em quadrinhos no Brasil. É doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, onde atua como professor titular e exerce a chefia do Departamento de Biblioteconomia e Documentação. Também é fundador e coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos

Também foi organizador e co-autor dos livros Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula (Contexto, 2004), Muito além dos quadrinhos (Devir, 2009) e Quadrinhos na educação (Contexto, 2009).


Nesta entrevista, o professor Waldomiro fala sobre seus livros, estudos acadêmicos, perspectivas e demais assuntos envolvendo os quadrinhos.

1) Conte-nos um pouco sobre o Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP. Quais são as atividades desenvolvidas, os envolvidos na coordenação, projetos, quem pode participar e como proceder...

O Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP surgiu em 1990, da união dos três professores aqui na ECA que trabalhavam com histórias em quadrinhos. O grupo era constituido, além de mim, também pelos professores Alvaro de Moya e Antonio Luiz Cagnin. Inicialmente, o Observatório se chamou Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos, denominação que manteve até poucos anos atrás, quando precisou adotar outra nomenclatura, devido a exigências burocráticas da ECA. Desde o início, tivemos por objetivo ser um centro de pesquisa e discussão sobre histórias em quadrinhos e temas correlatos, desenvolvendo projetos e elaborando publicações na área. Atualmente, depois da aposentadoria dos outros dois colegas, fiquei apenas eu como professor da ECA no Observatório, mas felizmente, com o tempo, tivemos a adesão de vários outros professores de outras faculdades e universidades. Divido a coordenação do Observatório com o prof. Roberto Elísio dos Santos, da Universidade de São Caetano do Sul. Além dele, participam também os professores Paulo Ramos (UNIFESP), Selma Meireles (FFLCH-USP), Gazy Andraus e Elydio dos Santos Neto (atualmente na UFPb), além da profa. Patrícia Borges, atualmente realizando pesquisa de pós-doutoramento sob minha supervisão. Temos também vários alunos de mestrado e doutorado, que eu oriento. A participação no Observatório é livre para todos os interessados, especialmente nos colóquios científicos mensais, realizados sempre na primeira sexta-feira de cada mês.

2) O senhor tem visto muitas pesquisas acadêmicas relevantes nos últimos anos? Poderia comentar algumas?

Tenho me dedicado bastante à questão dos quadrinhos na educação, que já foi tema de dois livros que organizei. E também tenho trabalhado no resgate da histórias dos quadrinhos brasileiros, sobre os quais já escrevi vários artigos, um livro que publiquei na Argentina e organizei um livro que será publicado ainda este ano.

3) Algumas dessas pesquisas poderiam integrar um novo projeto semelhante ao livro Muito Além dos Quadrinhos (Devir, 2009), co-organizado pelo senhor, obra que reúne artigos acadêmicos de diversos temas relacionados aos quadrinhos? Há algum plano nesse sentido?

Devo publicar ainda este ano um livro que reune vários textos sobre quadrinhos brasileiros. Trata-se de um livro organizado já há alguns anos, que ficou preso a uma editora para publicação, mas que não o publicou, e agora está sendo finalizado por outra editora. Também tenho um livro sobre a revista Gibi, feito com os Roberto Elísio, Paulo Ramos e Nobuyoshi Chinen, que provavelmente será publicado em 2012. E participo também da organização de um livro sobre Quadrinhos e literatura, que também deverá ser finalizado no ano que vem.

4) O Observatório é responsável pela organização das I Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, que vão acontecer no mês de agosto. Como está o andamento para o congresso e quais são as expectativas?

As expectativas para as I Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos são muito boas. Temos 190 trabalhos aprovados para apresentação, sob os mais variados temas, e com alto nível de qualidade científica. Será o maior evento científico, exclusivo sobre histórias em quadrinhos, já realizado no país.

5) Qual a sua opinião sobre a postura do governo em adotar adaptações literárias para quadrinhos nas escolas públicas como incentivo à leitura de livros clássicos? Os quadrinhos devem ser encarados como mera ponte para a literatura — essa, sim, arte tida como séria e consagrada?

Eu acho válida a adaptação de obras literárias para os quadrinhos, pois ela possibilita uma nova forma de acesso a uma produção importante. Mas não é absolutamente uma ponta para a leitura da obra literária, embora eu também ache que a leitura da adaptação não substitui a leitura do original. Os quadrinhos representam uma linguagem muito rica, que acrescenta elementos próprios à adaptação da obra literária e por isso oferece uma experiência de fruição da obra que é número diferente da obra literária. Eu não diria que é melhor (pois isso pode depender da qualidade da adaptação), mas em geral é mais rica. Se a leitura da obra em quadrinhos levar à leitura da obra literária, ótimo. Se não levar, tudo bem.

6) O senhor é co-autor de dois excelentes livros sobre a utilização das histórias em quadrinhos como material pedagógico em salas de aula, Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula (Contexto, 2004) e Quadrinhos na Educação (Contexto, 2009). Como tem sido a receptividade dos educadores a esse material? O senhor sente que os quadrinhos têm recebido mais espaço nas escolas com objetivos mais amplos do que apenas servir de incentivo para a literatura?

A aceitação dos quadrinhos em ambiente escolar tem crescido ano a ano. Cada vez mais eu me encontro com professores que querem utilizar os quadrinhos e buscam formas de faze-lo ou que já utilizaram os quadrinhos e querem melhorar/aprimorar essa utilização. E muitos deles vão além do incentivo à literatura, mas se preocupam em ampliar as opções de leitura de seus alunos, entendendo os quadrinhos tanto como uma opção válida de lazer como uma fonte de informações sobre o mundo, a vida, o cotidiano de seus alunos. Confesso que isso me entusiasma e me faz imaginar tempos melhores para os quadrinhos na educação.

7) Em países como Japão, EUA, França e Bélgica, os quadrinhos detêm um nível de atenção e valoração muito mais elevado do que em nosso país, inclusive com cursos de graduação voltados à área. O que precisaria ser feito para chegarmos a esse patamar? Existem projetos no círculo acadêmico para maior inserção dos quadrinhos nas grades curriculares de determinados cursos ou algo que mereça ser comentado?

Acho que ideias para maior reconhecimento dos quadrinhos no âmbito acadêmico - inclusive com a proposição de cursos formais - estão amadurecendo e acredito que elas virão à tona no momento apropriado. Há um evidente crescimento do interesse acadêmico pelos quadrinhos, seja como objeto de pesquisa em cursos de pós-graduação, seja como trabalhos apresentados em eventos das mais variadas áreas científicas. Acredito que esse interesse vai acabar levando à proposição de disciplinas formais em cursos de graduação e, posteriormente, em espaços próprios nos cursos de pós-graduação.

8) O grande aumento de títulos de quadrinhos nas prateleiras da livrarias é uma realidade que tende a perdurar ou o senhor considera que isso é passageiro? Isso reflete um possível amadurecimento do mercado de quadrinhos no Brasil, com uma enxurrada de títulos voltados a um público mais maduro e com maior poder aquisitivo? Quais são as consequências dessas novas tendências?

Houve um evidente amadurecimento dos quadrinhos nos últimos anos. O Brasil, nesse sentido, segue a tendência mundial. Acredito que o futuro dos quadrinhos é a diversificação de mercados, de gêneros e de público.

9) Existem planos para novos livros teóricos de sua autoria?

Estou sempre pensando em novas publicações. Além das que mencionei na pergunta 3, estou trabalhando em um livro sobre como trabalhos com histórias em quadrinhos nas bibliotecas e penso, futuramente, em organizar meus artigos (principalmente os que publiquei na Internet) em uma publicação.