28.1.11

Fanzines - A voz do underground (parte 1)

O ano era 1992. Eu acabara de completar 14 anos e estava desbravando os meus recém-conhecidos universos do metal e do punk rock, que a cada dia revelavam novas pérolas para mim, bandas que acompanho com empolgação até hoje.

Numa dessas peregrinações por Bauru em busca de novos discos de vinil, me deparei com algo que mudaria a minha vida, sem o mínimo de exagero.

Eu estava na casa de um amigo, mais velho do que eu, de quem eu costumava comprar uns vinis. Aliás, eu gastava boas horas do meu dia atrás de discos e gibis, o que me levou a conhecer bastante gente envolvida ou apenas interessada por estes assuntos. Com isso, fui aprendendo muita coisa, numa época em que você precisava correr atrás ao invés de recorrer a uma simples busca no Google. Hoje é mais fácil, mas naquela época parece que dávamos mais valor pra cada novo achado.

Enquanto esse amigo me apresentava algumas bandas, olhei para o lado e vi uma caixa enorme cheia de “revistas”. Perguntei se estavam à venda e ele me respondeu que eram fanzines, não revistas. Enquanto ele tecia uma detalhada explicação sobre o que eram os “zines”, como eram carinhosamente tratados, comecei a folhear alguns deles.

Fiquei deslumbrado. Fascinado. Maravilhado. Um novo mundo se descortinava diante de mim.

Comprei alguns discos e ele me deu uma grande quantidade de fanzines de metal em todas as suas vertentes, inclusive o dele, chamado Stain Crazy. Fui correndo pra casa doido pra ouvir os discos e ler os zines.

Era um oceano de informação. Tinha zine de tudo quanto era lado, de norte a sul do Brasil. Fanzineiros das antigas, como era o caso deste meu amigo, costumavam se corresponder com gente de tudo quanto era canto do país e também com zineiros estrangeiros, o que gerava intercâmbio de suas publicações independentes. Havia alguns no pacotão que ele me deu. De qualquer forma, meu inglês era péssimo naquela época, mas era bacana ver o nível de alguns zines gringos. Pareciam revistas!

Contudo, os fanzines traziam as coisas das quais eu gostava de verdade, enquanto que as revistas falavam de várias bandas que eu não suportava. Além do mais, eram poucas as revistas, algumas eram mensais, outras bimestrais. Informação insuficiente pra um garoto de 14 anos cheio de curiosidade. Portanto os zines eram um excelente meio de comunicação.

À parte dos fanzines, digamos, mais “profissionais”, havia os fanzines artesanais e descompromissados, que eram a grande maioria e os que mais nos interessam aqui. Geralmente eram feitos por uma ou duas pessoas e expunham muito da identidade de cada autor. Eram sensacionais!

Fui descobrindo os mais variados gêneros de fanzines ao longo do tempo. Os temas variavam entre música, cinema, quadrinhos, contos, poesia, ilustrações, fotografia, política, futebol, horror, ficção científica, western, RPG, Tolkien, artes marciais, sexo, fã-clubes, receitas, colecionismo e tudo o mais que a imaginação pudesse criar.

Mas como ninguém podia viver só de fanzine, e muitas vezes as horas vagas eram poucas, a periodicidade das publicações era desrespeitada na maior cara-de-pau. A maioria dava-se por contente por lançar três ou quatro edições por ano e quase nunca cumpriam o prazo estabelecido, se é que havia.

Também pudera. Fazer zine dava muito trabalho! Era preciso escrever os textos à máquina, recortar, colar, diagramar, xerocar, escrever e ler cartas, endereçá-las, ir ao correio, fazer flyers e ainda se inteirar ao máximo pra conseguir informação pertinente pro fanzine. Bom, o conteúdo variava muito de acordo com a intenção de cada autor, e a pertinência idem.


Continua aqui.

Um comentário:

ZECA ACESSORIOS AUTOMOTIVOS disse...

caraca...que materia...fiquei realmente super contente com essa materia!
um grande abraço
ZECA
STAINCRAZY ZINE ...