29.8.11

Entrevista com Waldomiro Vergueiro


Waldomiro Vergueiro é umas das sumidades em quadrinhos no Brasil. É doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, onde atua como professor titular e exerce a chefia do Departamento de Biblioteconomia e Documentação. Também é fundador e coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos

Também foi organizador e co-autor dos livros Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula (Contexto, 2004), Muito além dos quadrinhos (Devir, 2009) e Quadrinhos na educação (Contexto, 2009).


Nesta entrevista, o professor Waldomiro fala sobre seus livros, estudos acadêmicos, perspectivas e demais assuntos envolvendo os quadrinhos.

1) Conte-nos um pouco sobre o Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP. Quais são as atividades desenvolvidas, os envolvidos na coordenação, projetos, quem pode participar e como proceder...

O Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP surgiu em 1990, da união dos três professores aqui na ECA que trabalhavam com histórias em quadrinhos. O grupo era constituido, além de mim, também pelos professores Alvaro de Moya e Antonio Luiz Cagnin. Inicialmente, o Observatório se chamou Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos, denominação que manteve até poucos anos atrás, quando precisou adotar outra nomenclatura, devido a exigências burocráticas da ECA. Desde o início, tivemos por objetivo ser um centro de pesquisa e discussão sobre histórias em quadrinhos e temas correlatos, desenvolvendo projetos e elaborando publicações na área. Atualmente, depois da aposentadoria dos outros dois colegas, fiquei apenas eu como professor da ECA no Observatório, mas felizmente, com o tempo, tivemos a adesão de vários outros professores de outras faculdades e universidades. Divido a coordenação do Observatório com o prof. Roberto Elísio dos Santos, da Universidade de São Caetano do Sul. Além dele, participam também os professores Paulo Ramos (UNIFESP), Selma Meireles (FFLCH-USP), Gazy Andraus e Elydio dos Santos Neto (atualmente na UFPb), além da profa. Patrícia Borges, atualmente realizando pesquisa de pós-doutoramento sob minha supervisão. Temos também vários alunos de mestrado e doutorado, que eu oriento. A participação no Observatório é livre para todos os interessados, especialmente nos colóquios científicos mensais, realizados sempre na primeira sexta-feira de cada mês.

2) O senhor tem visto muitas pesquisas acadêmicas relevantes nos últimos anos? Poderia comentar algumas?

Tenho me dedicado bastante à questão dos quadrinhos na educação, que já foi tema de dois livros que organizei. E também tenho trabalhado no resgate da histórias dos quadrinhos brasileiros, sobre os quais já escrevi vários artigos, um livro que publiquei na Argentina e organizei um livro que será publicado ainda este ano.

3) Algumas dessas pesquisas poderiam integrar um novo projeto semelhante ao livro Muito Além dos Quadrinhos (Devir, 2009), co-organizado pelo senhor, obra que reúne artigos acadêmicos de diversos temas relacionados aos quadrinhos? Há algum plano nesse sentido?

Devo publicar ainda este ano um livro que reune vários textos sobre quadrinhos brasileiros. Trata-se de um livro organizado já há alguns anos, que ficou preso a uma editora para publicação, mas que não o publicou, e agora está sendo finalizado por outra editora. Também tenho um livro sobre a revista Gibi, feito com os Roberto Elísio, Paulo Ramos e Nobuyoshi Chinen, que provavelmente será publicado em 2012. E participo também da organização de um livro sobre Quadrinhos e literatura, que também deverá ser finalizado no ano que vem.

4) O Observatório é responsável pela organização das I Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, que vão acontecer no mês de agosto. Como está o andamento para o congresso e quais são as expectativas?

As expectativas para as I Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos são muito boas. Temos 190 trabalhos aprovados para apresentação, sob os mais variados temas, e com alto nível de qualidade científica. Será o maior evento científico, exclusivo sobre histórias em quadrinhos, já realizado no país.

5) Qual a sua opinião sobre a postura do governo em adotar adaptações literárias para quadrinhos nas escolas públicas como incentivo à leitura de livros clássicos? Os quadrinhos devem ser encarados como mera ponte para a literatura — essa, sim, arte tida como séria e consagrada?

Eu acho válida a adaptação de obras literárias para os quadrinhos, pois ela possibilita uma nova forma de acesso a uma produção importante. Mas não é absolutamente uma ponta para a leitura da obra literária, embora eu também ache que a leitura da adaptação não substitui a leitura do original. Os quadrinhos representam uma linguagem muito rica, que acrescenta elementos próprios à adaptação da obra literária e por isso oferece uma experiência de fruição da obra que é número diferente da obra literária. Eu não diria que é melhor (pois isso pode depender da qualidade da adaptação), mas em geral é mais rica. Se a leitura da obra em quadrinhos levar à leitura da obra literária, ótimo. Se não levar, tudo bem.

6) O senhor é co-autor de dois excelentes livros sobre a utilização das histórias em quadrinhos como material pedagógico em salas de aula, Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula (Contexto, 2004) e Quadrinhos na Educação (Contexto, 2009). Como tem sido a receptividade dos educadores a esse material? O senhor sente que os quadrinhos têm recebido mais espaço nas escolas com objetivos mais amplos do que apenas servir de incentivo para a literatura?

A aceitação dos quadrinhos em ambiente escolar tem crescido ano a ano. Cada vez mais eu me encontro com professores que querem utilizar os quadrinhos e buscam formas de faze-lo ou que já utilizaram os quadrinhos e querem melhorar/aprimorar essa utilização. E muitos deles vão além do incentivo à literatura, mas se preocupam em ampliar as opções de leitura de seus alunos, entendendo os quadrinhos tanto como uma opção válida de lazer como uma fonte de informações sobre o mundo, a vida, o cotidiano de seus alunos. Confesso que isso me entusiasma e me faz imaginar tempos melhores para os quadrinhos na educação.

7) Em países como Japão, EUA, França e Bélgica, os quadrinhos detêm um nível de atenção e valoração muito mais elevado do que em nosso país, inclusive com cursos de graduação voltados à área. O que precisaria ser feito para chegarmos a esse patamar? Existem projetos no círculo acadêmico para maior inserção dos quadrinhos nas grades curriculares de determinados cursos ou algo que mereça ser comentado?

Acho que ideias para maior reconhecimento dos quadrinhos no âmbito acadêmico - inclusive com a proposição de cursos formais - estão amadurecendo e acredito que elas virão à tona no momento apropriado. Há um evidente crescimento do interesse acadêmico pelos quadrinhos, seja como objeto de pesquisa em cursos de pós-graduação, seja como trabalhos apresentados em eventos das mais variadas áreas científicas. Acredito que esse interesse vai acabar levando à proposição de disciplinas formais em cursos de graduação e, posteriormente, em espaços próprios nos cursos de pós-graduação.

8) O grande aumento de títulos de quadrinhos nas prateleiras da livrarias é uma realidade que tende a perdurar ou o senhor considera que isso é passageiro? Isso reflete um possível amadurecimento do mercado de quadrinhos no Brasil, com uma enxurrada de títulos voltados a um público mais maduro e com maior poder aquisitivo? Quais são as consequências dessas novas tendências?

Houve um evidente amadurecimento dos quadrinhos nos últimos anos. O Brasil, nesse sentido, segue a tendência mundial. Acredito que o futuro dos quadrinhos é a diversificação de mercados, de gêneros e de público.

9) Existem planos para novos livros teóricos de sua autoria?

Estou sempre pensando em novas publicações. Além das que mencionei na pergunta 3, estou trabalhando em um livro sobre como trabalhos com histórias em quadrinhos nas bibliotecas e penso, futuramente, em organizar meus artigos (principalmente os que publiquei na Internet) em uma publicação.

16.6.11

Museu de quadrinhos e animação na China

O país mais populoso do mundo está com um mega projeto para ser iniciado a partir do ano que vem, o faraônico Comic and Animation Museum of China.

O projeto, a ser construído na cidade da Hangzhou, ainda não possui previsão de inauguração, mas a MVRDV, empresa que venceu a licitação para a construção, divulgou um vídeo sobre o que planeja para o impressionante museu. Assista-o abaixo e segure o queixo pra não ficar babando em cima do teclado.

Será que o Brasil, parceiro da China no BRIC (bloco econômico composto pelos países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China), também possui pretensões de construir um museu nesse patamar? Ah ah ah ah ah!!! Acho que nem o Sandman sonha com isso...





14.6.11

100 Balas desde o início

Depois de assumir a publicação de 100 Balas a partir do terceiro volume da série, a Panini Brasil agora preenche uma lacuna trazendo as duas primeiras edições de volta às bancas para que os leitores possam completar suas coleções.

100 Balas é um dos mais bem sucedidos títulos recentes da linha Vertigo e já havia sido publicado no Brasil pelas extintas editoras Opera Graphica e Pixel, respectivamente. A série já foi laureada com diversos prêmios, dentre eles o Harvey Award e o Esiner Award, e é um dos melhores quadrinhos policiais já publicados, com arte diferenciada e roteiro de primeiríssima qualidade, que prende o leitor a cada página.

Reunindo as primeiras sete edições da série, 100 Balas Vol. 1 - Atire Primeiro, Pergunte Depois mostra o começo da jornada dos misteriosos agente Graves, senhor Shepherd e Dizzy Cordova, três almas cujos destinos estão ligados graças a, entre outras coisas, uma maleta e cem projéteis.

Se você estava curioso para saber como tudo começou, não perca a chance. O primeiro disparo é dado aqui!

100 Balas é uma criação do roteirista estadunidense Brian Azzarello (Hellblazer, Coringa, Lex Luthor: Homem de Aço) e do desenhista argentino Eduardo Risso (Jonny Double).
  • Formato americano (17 x 26 cm) 
  • 164 páginas
  • Papel LWC
  • Lombada quadrada
  • R$19,90
  • Distribuição setorizada
  • Capa cartão
  • 100 Bullets #1 a 7

2.6.11

Novo convidado para o 7º FIQ

O quadrinista argentino Kioskerman é o mais novo convidado internacional a confirmar sua presença no 7º Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte.

Considerado por alguns como "o novo Liniers", suas tirinhas têm um teor lírico que oscila entre o nonsense, o reflexivo e a comédia. No entanto, essas definições simplificadas são insuficientes para descrever sua obra profunda e interessante.

Seu livro Éden, publicado no Brasil (Zarabatana Books, 2010) e em outros países, apresenta um mundo de fantasia que não tem uma história central, mas que é apresentado através de várias tirinhas, onde os personagens apenas vivem suas vidas naquele estranho mundo. O clima de sonho dá uma sensação de conforto e familiaridade, enquanto Kioskerman aborda o inefável e o imponderável em desenhos limpos e elegantes, com tirinhas que nem sempre têm uma gag no último quadrinho, mas descrevem bem o mundo interno dos personagens e o cenário onde vivem.

A sétima edição do FIQ acontecerá entre 9 e 13 de novembro de 2011 na Serraria Souza Pinto em BH. Para saber quem são os demais convidados e obter mais informações, clique aqui.

Tira à mão (ou não)

Personagem novo na série Os Passarinhos, de Estevão Ribeiro. Damião, o Pedreiro, teve sua primeira aparição na tira publicada hoje no blog do autor.

1.6.11

Cursos de férias na Quanta Academia

A Quanta Academia de Artes oferece diversos cursos nessas frias férias de julho que se aproximam.

Os cursos acontecem na semana entre os dias 16 e 23 de julho, sendo que os Cursos Rápidos acontecem durante a semana e as Oficinas ocorrem aos sábados.

Clique nos links abaixo e confira os detalhes de cada curso.

Cursos rápidos - Tarde

Cursos rápidos - Noite

Oficinas - Sábado, 16 de julho 

Oficinas - Sábado, 23 de julho

Comece a se programar para passar as férias de julho com a Quanta aprimorando seus conhecimentos e dando valor ao seu talento.

3º Concurso de Bolsas de Estudos Integrais

Serão três bolsas de estudos integrais para o Curso de Desenho. E neste ano, a Quanta Academia, em parceria com a Revista Zupi, oferece também bolsas de estudos integrais para os cursos avançados: Histórias em Quadrinhos, Ilustração, Técnicas de Pintura e Ilustração Digital. Clique aqui e saiba como participar.

31.5.11

Tira à mão (ou não) #2

Esse quadrinho veio muito a calhar, pois sempre me considerei uma vítima das incessantes e insuportáveis buzinas do insano trânsito paulistano.

A HQ é de autoria do criativo artista Rafael Corrêa e foi publicada na semana passada em seu blog. Dá uma fuçada lá que tem muito material de qualidade. As risadas são garantidas.


Tira à mão (ou não)

Como o Supremo Tribunal Federal decidiu (acertadamente, diga-se de passagem) tornar a união estável gay juridicamente reconhecida no Brasil, publicamos aqui esta HQ de autoria de Fernando Duarte, publicada no último sábado em seu blog Juventude Perigosa.


25.5.11

7º FIQ vai homenagear o quadrinista Maurício de Sousa


Criador da “Turma da Mônica”, Maurício de Sousa será homenageado na sétima edição do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ), que acontecerá entre 9 e 13 de novembro de 2011, na Serraria Souza Pinto. O evento, maior da América Latina na área de quadrinhos, é promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Fundação Municipal de Cultura e da Associação dos Amigos do Centro de Cultura de Belo Horizonte (AMICULT).

Maurício de Sousa esteve presente na sexta edição do FIQ, em 2009, lançando o livro MSP 50, da editora Panini, em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Naquela ocasião, o quadrinista participou de bate-papo com estudantes da capital. Neste ano, espera-se que ele retorne à cidade para participar do evento que, desta vez, o homenageia. Segundo Afonso Andrade, coordenador geral do FIQ, está programada uma exposição alusiva ao homenageado.

Além de um quadrinista de destaque, em todas as suas edições o FIQ também escolhe um país para homenagear. Neste ano, o país homenageado será a Coreia do Sul, que conta com um mercado de quadrinhos muito forte internacionalmente. O incentivo do governo local para a produção de quadrinhos e o cinema de animação fez o país crescer na exportação desses produtos culturais. Para o co-curador do FIQ, Daniel Werneck, este é um exemplo que deve ser seguido pelo Brasil. “Quando vemos um país pequeno e sem muita tradição nos quadrinhos produzindo tanto material de qualidade e publicando em vários países do mundo, fica mais fácil de acreditar que também podemos fazer isso.”

Os quadrinhos mais populares no país homenageado são conhecidos como “manhwa”. Uma exposição trará desenhos de diversos quadrinistas coreanos, entre eles, Park Sang-sun, autora de Tarot Café (publicado aqui pela NewPOP), que estará presente no Festival.

Lista de convidados confirmados cresce

O 7º FIQ repete a fórmula de sucesso das edições anteriores, trazendo a Belo Horizonte nomes consagrados dos quadrinhos nacional e internacional. Até o momento, já estão confirmadas as vindas dos norte-americanos C. B. Cebulski (editor da Marvel Fairy Tales), Jill Thompson (vencedora do prêmio Eisner), do também norte-americano Matt Fraction, roteirista das revistas Iron Man e Thor, e sua esposa Kelly Sue DeConnick, roteirista de Supergirl, e do francês Cyril Pedrosa, autor do livro Três Sombras, lançado recentemente no Brasil pela Companhia das Letras.

O elenco nacional do 7º FIQ também tem nomes importantes garantidos, como Ivan Reis (DC Comics), Mike Deodato (Marvel), Eddy Barrows (DC Comics), Ana Luiza Koehler, Luciano Irrthum, João Montanaro e o cultuado Larte Coutinho.

A coordenação do Festival ainda aguarda a confirmação de alguns nomes nacionais e internacionais para fechar a programação. Segundo Afonso Andrade, estão sendo realizados contatos com as embaixadas internacionais visando aumentar o número de convidados estrangeiros.

24.5.11

Programação das Jornadas Internacionais de HQs


Já está disponível a excelente e abrangente programação das I Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, um grande congresso científico multidisciplinar organizado pelo Observatório de Histórias em Quadrinhos que acontecerá no mês de agosto na Escola de Comunicação e Artes da USP da capital.

São diversos convidados de alto gabarito, sumidades brasileiras e estrangeiras da pesquisa em quadrinhos. Nomes como Moacy Cirne (A explosão criativa dos quadrinhos), Álvaro de Moya (A história da história em quadrinhos), Antonio Luiz Cagnin (Os quadrinhos), Sônia Bibe Luyten (Mangá - O poder dos quadrinhos japoneses), Elydio dos Santos Neto (Histórias em quadrinhos & educação), Juan Sasturain (editor da revista Fierro), entre outros.

Confira a grade de programação e reserve espaço na sua agenda:


23.08 - TERÇA-FEIRA
19h30 - Abertura - Mesa redonda: Implodindo preconceitos: os pioneiros do estudo de   quadrinhos no Brasil
• José Marques de Melo (Umesp), Moacy Cirne (a confirmar), Álvaro de Moya (ECA/USP), Antonio Luiz Cagnin (ECA/USP)


24.08 - QUARTA-FEIRA
14h00 - Mesas temáticas
15h30 - Intervalo
16h00 - Mesas temáticas
17h30 - Intervalo
18h00 - Mesa-redonda: Os mangás na Terra do Sol Poente: impactos e influências
• Sônia Bibe Luyten (Grupo de Pesquisa de Comunicação Visual/Faculdade Cásper Líbero), Selma Martins Meireles (FFLCH/USP)
19h00 - Mesa-redonda: Resistência e luta: a trajetória dos quadrinhos na Argentina
• Juan Sasturain (Argentina), Laura Vásquez (Universidad de Buenos Aires/Argentina)
20h00 - Lançamento de livros


25.08 - QUINTA-FEIRA
14h00 - Mesas temáticas
15h30 - Intervalo
16h00 - Mesas temáticas
17h30 - Intervalo
18h00 - Mesa-redonda: O gibi chegou à escola. E agora?
• Eduardo Calil (UFAL), Elydio dos Santos Neto (UFPA), Márcia Mendonça (Unifesp)
19h00 - Mesa-redonda: Convergências e divergências: panorama da pesquisa em quadrinhos ibero-americana
• Hector Fernandes L'Hoeste (Georgia State University/EUA)
20h00 - Lançamento de livros


26.08 - SEXTA-FEIRA
19h00 - Encerramento - Mesa temática: Shazam! Quatro décadas de uma obra consagrada
• Álvaro de Moya (ECA/USP) e outros autores do livro (a confirmar)
21h00 - Jantar de confraternização (mediante adesão)

23.5.11

Tira à mão (ou não) #2

Outra tira que merece registro não só pelo senso de humor, mas pela metalinguagem e o estilo peculiar do artista.

De autoria de Paulo Stocker, essa tira foi publicada ontem no blog do autor, intitulado Stockadas. Vale conferir o blog, pois o seu criador tem bastante material de qualidade, com tirinhas mudas carregadas de tinta preta, já que os personagens são sempre caracterizados em silhuetas.


Tira à mão (ou não)

O cultuado escritor Aldous Huxley permeia esta tira publicada hoje no blog Contratempos Modernos, de autoria de Rodrigo Chaves, figurinha já carimbada neste blog devido à qualidade do seu material corrosivo, sarcástico e cheio de humor negro que nos faz refletir e dar boas risadas.


20.5.11

Tira à mão (ou não)

Fiz muuuuuito disso em minha adolescência. Acho que todo mundo já fez, né? A velha incompatibilidade de gerações...

Esta ótima tira de autoria do roteirista, ilustrador e professor José Aguiar foi publicada hoje em seu blog Quadrinhofilia.


19.5.11

Tira à mão (ou não)

Com todo o respeito àquelas pessoas que levantam o astral dos enfermos nos hospitais, mas o sarcasmo dessa HQ é impagável!

A historinha "Tá na Hora da Alegria!" é de autoria do artista Ricardo Coimbra e foi publicada hoje no seu divertido blog Vida e Obra de Mim Mesmo.


18.5.11

4º Mercado de Pulgas

Outro evento bacana que está para acontecer é o 4º Mercado de Pulgas, promovido pelo Guia dos Quadrinhos com apoio da Devir Livraria e da Terramédia.

Após três edições, o Mercado de Pulgas volta para a alegria dos leitores e colecionadores de quadrinhos e afins. No dia 4 de junho, das 11h às 17h, no Salão Devir, os fãs poderão trocar, vender e comprar seus gibis, videogames, mangás, RPGs, DVDs, action figures e itens colecionáveis.

Nas edições passadas, foram negociadas edições raras de títulos nacionais e importados, como o nº 1 da revista Mickey da Editora Abril, que foi vendido por 3 mil reais; edições originais da minissérie Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller; os encadernados importados da série Miracleman, de Alan Moore; edições da lendária revista O Gibi; e revistas de editoras como EBAL, Bloch e GEP.

O Salão da Devir está localizado na Rua Teodureto Souto, 624, no bairro do Cambuci em São Paulo.

Para os interessados em vender ou trocar seus materiais, é só mandar um e-mail para eventohq@guiadosquadrinhos.com, pois os lugares são limitados. Ah! E, o melhor de tudo: a participação é gratuita!

20 anos da Gibiteca Henfil

Amanhã é dia de festa!

A Gibiteca Henfil comemora seus 20 aninhos de existência e, pra comemorar essa data especial, vai oferecer atrações especiais.

Amanhã, às 20h, haverá uma palestra com o filho do Henfil, o artista Ivan Cosenza.

No mesmo dia e horário será aberta a exposição Henfil nos 20 anos da Gibiteca,  uma homenagem ao cartunista que resgata imagens da exposição Henfil Baixou Aqui, apresentada no Salão Internacional de Humor de Piracicaba logo após sua morte, e da exposição Henfil - Vida e Obra, em que são contemplados personagens criados pelo artista, além de charges políticas e esportivas.

O restante da programação pode ser conferida aqui.

10.5.11

Tira à mão (ou não) #2

Tira publicada hoje no blog do genial artista Orlandeli.

Me identifiquei muito com essa tira, pois é assim que me sinto em boa parte do meu dia.


Tira à mão (ou não)

Compilação divertida das tiras da série "Bebida", de autoria do cartunista Maurício Rett. Todas as tiras do trio O Bom, o Mau e o Feio podem se lidas clicando aqui.


6.5.11

Tira à mão (ou não)

AHAOIHAUHAOIUHAHAOIUAHOIHAUAHIOUHAOUHAHAUHAUHAOUHAOIHAHAIOUHIOHAI
Tira publicada ontem no blog Overdose Homeopática, do talentoso cartunista Marco Oliveira.

28.4.11

Tira à mão (ou não)

Tirinha publicada hoje no excelente blog Contratempos Modernos, de autoria do artista Rodrigo Chaves.

Senti uma agradável influência dos trabalhos antigos do Crumb. Concordam?

14.3.11

I Encontro Nacional de Estudos sobre Quadrinhos e Cultura Pop

Os quadrinhos estão realmente com tudo. Além das 1as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, já comentadas aqui, teremos mais um evento acadêmico, desta vez sediado na região Nordeste. Trata-se do Encontro Nacional de Estudos sobre Quadrinhos e Cultura Pop, a ser realizado de 29 a 31 de julho no Centro de Convenções da UFPE, em Recife/PE.


O evento estará se realizando no mês de julho dentro do Super-Con, a maior convenção de cultura pop do Estado de Pernambuco e adjacências (também é realizado na Paraíba). O evento reúne fãs de animes, mangás, quadrinhos, dublagem e outras atividades, no centro de convenções da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. A ideia é permitir aos participantes não só o espaço acadêmico de reflexão e apresentação das pesquisas, mas vivenciar o próprio ambiente de análise.

Todos os interessados em participar (mesas-redondas, grupos de trabalho - GTs e comunicações livres) deverão enviar a ficha de inscrição e um resumo de sua proposta, conforme os critérios de regulamentação até 14/04/2011, para a avaliação por parte da Comissão Científica e posterior publicação nos Anais do Evento. Os resumos deverão ser enviados para encontrohq@gmail.com.

Para mais informações, visitem o site do evento aqui.

12.3.11

Entrevista com a escritora Marcela Godoy

Marcela Godoy é escritora, roteirista, professora e batalhadora incansável pela autonomia artística das histórias em quadrinhos. Dedica boa parte do seu tempo à nona arte, criando histórias, lecionando no curso Técnicas de Escrita e Composição para Histórias em Quadrinhos na Quanta Academia de Artes, traduzindo obras para a Devir Livraria e assessorando novos e veteranos autores na participação de editais de fomento à cultura, como o ProAC, do qual já consta com boa experiência, com 3 títulos publicados.

Autora dos romances O Primeiro Relato da Queda de um Demônio (Devir, 2004) e Liah e o Relógio (Devir, 2009). Como roteirista, publicou as revistas Schem-Ha Mephorash (independente), em parceria com Sam Hart, e indicada ao HQ Mix 2007 na categoria de Melhor Publicação Independente Especial; e Sete Segundos de Eternidade, ilustrada por Thiago Cruz.

Participou do álbum Quebra-Queixo Technorama Vol. 2 (Devir, 2005) com o roteiro da HQ "Virá que eu Vi", ilustrada por Julia Bax. Participou do projeto Cidades Ilustradas – São Paulo (Editora Casa 21), escrito e ilustrado por David Lloyd, contribuindo com a pesquisa fotográfica, tradução e assessoria editorial ao autor e editor do livro.

Traduziu os quatro primeiros álbuns da série Sin City, de Frank Miller, relançados pela Devir Livraria em 2004 e 2005. Também traduziu para a Pixel Media os álbuns Reino dos Malditos, Crimes Macabros, O Traça, Jingle Bella e Cem Balas.

Em parceria com Eduardo Ferigato, publicou o álbum em quadrinhos Fractal, de 72 páginas. Este projeto foi um dos vencedores do edital promovido pela Secretaria de Estado da Cultura do Governo de São Paulo, e foi lançado pela Devir.

Mais informações a respeito da profícua autora podem ser encontradas em seu blog, clicando aqui.


1) Desde a década de 90, os quadrinhos vêm caminhando lentamente para o seu reconhecimento no Brasil. A princípio eram rebaixados como arte menor para depois serem constantemente  comparados à literatura. Hoje os quadrinhos lutam pelo seu lugar ao sol em um assento próximo aos das artes consagradas, mas impondo-se enquanto arte constituinte de suas próprias peculiaridades. Enquanto roteirista, como você vê essa relação dos quadrinhos com a literatura, artes gráficas e a narrativa?


Poxa vida... Vou tentar não me estender tanto ao responder, vamos lá... Penso que a graphic novel,  que é o modelo de HQ sobre o qual me baseio para responder sua pergunta, ilustra muito bem essa relação. A graphic novel representa a integração mais profunda entre texto, imagem e narrativa. Uma boa graphic novel tem um texto forte, bem escrito; uma arte condizente com o texto e com a proposta da novela, e ambos trançados harmonicamente por meio da narrativa, ou seja, da 'contação' da história propriamente dita.

Saber explorar as linhas que vão colorir este bordado, tecido a partir dessa combinação indissolúvel entre texto e imagem, pode ser bastante complexo. É por isso que acho complicado encaixar a HQ no rótulo de literatura ou arte gráfica. Acho que a HQ transcende ambos ao trabalhar com as duas linguagens de uma forma muito rica e particular.

Para mim, trata-se de uma questão mais relacionada à construção da narrativa. Por narrativa, é importante esclarecer aqui, refiro-me à forma de contação de uma história, aos intrumentos e técnicas  textuais e gráficas  de que vou dispor para contar uma história. A HQ tem uma estrutura que pressupõe um exercício narrativo e uma composição narrativa diferenciada. O autor precisa ter uma visão de composição integrada para que o resultado não fique aquém da proposta pretendida. E aí entra a habilidade do roteirista ao conduzir a orquestra e a do artista ao executar os instrumentos.

Acho que esta é a razão pela qual, cada vez mais, os críticos e teóricos têm prestado mais atenção às HQs, porque estão começando a compreender a complexidade desta estrutura. Trata-se de um modelo de composição que merece reconhecimento e que se destaca, sim, de outros gêneros. É uma arte que precisa se emancipar como gênero distinto, ou jamais conseguirá ser compreendida em sua totalidade.


2) Muitos artistas gráficos brasileiros de hoje se embrenham pelos quadrinhos, e muitos desenhistas de quadrinhos estão recebendo grande reconhecimento por parte da imprensa, da crítica e do público. Mas por que os roteiristas ainda não têm o mesmo espaço no Brasil?


Não creio que seja exatamente uma questão de espaço. Veja, um roteirista "vinga", normalmente, quando já associado a um projeto gráfico. É preciso haver uma proposta visual atrelada ao roteiro, entende? Nós, roteiristas, só existimos quando há uma HQ publicada com nosso nome na capa. Não vendemos roteiro na banca e não temos o "deviantart" de roteiro. Não existe um outro meio de divulgação de nosso trabalho que não seja a própria revista publicada, a história graficamente contada.

A arte gráfica, neste sentido, sai mais na frente ao ser autônoma, entende? Um desenhista de quadrinhos tem a chance de aparecer de outras maneiras. Por exemplo, fazendo a capa de uma revista ou romance, um editorial para uma revista, ilustrando um romance, publicando charges, fazendo pin-ups para um outro título que não o seu regular.

O fato é que os meios de exposição do trabalho do desenhista são bem mais favoráveis a ele neste sentido, nesta suposta aquisição de espaço. Você consegue identificar um talento para desenho numa avaliação de portfólio, por exemplo, isso já não existe para quem escreve. A "resposta" para a arte visual é mais dinâmica e instantânea, como a fotografia digital (eu ia dizer a Pollaroid, mas soaria jurássico). Olhou, gostou ou não gostou.

Com roteiro é diferente. Você não arruma sua pasta de roteiros e vai para uma avaliação de roteiros, onde um editor vai passar a noite lendo seu material para depois dizer no que você precisa melhorar, se já está pronto... Tampouco aquela coluna que você escreve regularmente faz grandes revelações sobre suas habilidades na construção de um roteiro ou como um contador de histórias graficamente representadas.


É neste sentido que eu digo que não se trata exatamente de uma questão de espaço. O roteirista fica dependente da quantidade de publicações que consegue emplacar. E há uma outra questão, complicadíssima, relacionada ainda à maneira com que as editoras, que não sejam editoras de quadrinho, procuram os artistas que vão produzir HQs para seu catálogo: em sua maioria, recorrem a aristas que sejam "autônomos" na composição. Não veem a HQ como estrutura que integra roteiro e arte, a partir, contudo, de um processo de composição independente. Então buscam autores que sejam capazes de produzirem as duas coisas.

Os editores  que não aqueles das editoras de quadrinhos, volto a dizer  ainda têm uma visão extremamente engessada sobre o que é HQ. Não têm a menor noção do que seja o processo de composição de um roteiro. Limitam-se a inundar o mercado com adaptações de tudo o que podem pensar, como se o universo estivesse desprovido de ideias comercialmente interessantes, com boa qualidade literária e gráfica, e que podem ser vendidos em massa para os programas governamentais de educação  o grande filão do mercado editorial do momento.  Isso, sim, é profundamente desanimador no contexto da sua pergunta.

Tive uma experiência recentemente executando um trabalho para o Quanta Estúdio de Arte, junto a um editor de uma grande editora, que foi muito peculiar. A visão dele de roteiro era a da página de quadrinho diagramada, com balões e espaços onde "vão entrar os desenhos", entende? Isso é muito, muito frustrante!

É por isso que, em questão de espaço, não há reconhecimento maior e melhor do que quando um artista chega para você e diz: "quero que você escreva a história que imaginei", ou "quero desenhar uma história sua". Ou quando seu editor liga dizendo que quer que você escreva uma história para um artista que você nunca conheceu, mas que conhece seu trabalho. Essa, sim, é a melhor sensação do mundo. Você sente que avançou uma casa no tabuleiro quando um artista ou editor reconhece o seu valor como roteirista e tira você para dançar.

As boas parcerias de composição nascem dessa forma, e aí esse espaço conquistado pelo roteirista junto ao artista/editor transcende-se ao chegar nas mãos do público como projeto realizado. E o reconhecimento do público só consagra essa sensação tão boa que você experimentou antes, lá atrás, no convite para o projeto nascer. O mesmo acontece quando a iniciativa parte do roteirista para o artista.

Então, acho que ganhar espaço escrevendo é isso. Ganhar primeiro o artista, depois o editor, e depois o público. Não há como ser diferente. E tem que publicar. Tem que publicar muito!


3) Muitos desenhistas brasileiros se destacaram trabalhando para o mercado estrangeiro de quadrinhos. Mas por que o mesmo não ocorre com os roteiristas nacionais?


Poxa vida... Isso depende muito do alvo para o qual você está apontando o dardo. Vamos olhar então para o mercado americano, quando você fala "mercado estrangeiro", ok?

De fato, muitos desenhistas brasileiros têm atenção e grande destaque por estarem trabalhando para o que chamamos de mainstream. Isso traz mesmo muita exposição e, merecidamente, reconhecimento, pois são artistas inegavelmente talentosos, muito competentes e inspirados. Tenho grandes amigos, de quem além de amigos, sou fã, que gozam dessa notoriedade. Não teria como ser de outro jeito. Se você trabalha para uma editora que vende um milhão de revistas, você vai ser conhecido entre um milhão de leitores. É simples assim!

Com roteiro, no entanto, a coisa é diferente. E se estivermos falando de mainstream, não vai acontecer, é simples assim. Primeiramente por uma questão de direitos autorais. Eu explico. Digamos que você tenha uma ideia genial para uma HQ do Batman. Você vai passar noites e noites escrevendo a "ultimate Batman's graphic novel", vai enviar à DC todo empolgado, pensando consigo "agora vão me descobrir!", e vai morrer esperando! Por que? Porque, contratualmente, os editores de qualquer editora do mainstream são terminantemente proibidos de ler qualquer material que não seja produzido dentro da própria editora. Isso está no contrato de trabalho deles. Sua ideia pode ser a melhor do mundo, não vai passar da expedição da editora.

Neste sentido, sua única chance de produzir algo para uma editora como essa seria se o convite partisse deles para você. E, diferentemente da arte, em que há avaliações de portfolio aqui e ali para a descoberta de novos talentos para o "pencil", para o roteiro não há. Você entra numa editora do mainstream como roteirista se algum editor ali conhecer seu trabalho como roteirista, ou se você tiver uma outra via de entrada, só que de dentro para fora. Em outras palavras, conhecer alguém de dentro que consiga levar sua ideia adiante sem que isso fira questões contratuais impostas a todos os editores, como a situação que eu exemplifiquei acima.

E aí você imagina quais as chances de um editor desses tomar contato com seu trabalho quando você não mora naquele país, aquela não é sua "mother tongue", você não tem nada publicado lá... Nem vale a pena almejar esse tipo de coisa. Há, contudo, editoras que publicam trabalhos de roteiristas estrangeiros, é claro. A Dark Horse é ótima neste sentido, pois mantém um processo ininterupto de avaliação de projetos, aberto a qualquer roteirista do planeta, é só acessar o site deles e ver as regras. Eles até podem se interessar em publicar a HQ com roteiro e arte, desde que você envie dez página arte-finalizadas, letreiradas e o roteiro inteiro acompanhando a amostra das páginas.

Então não tem nada a ver com reconhecimento, ou ser bom ou não, ou nada dessa convesa. Trata-se muito mais da sua disposição em escrever um material inteiro em outra língua, sem um projeto gráfico associado, e disponibilizá-lo para um número reduzido de editoras de médio e pequeno porte na esperança de que algum editor detro de uma delas vai "comprar" sua ideia a ponto de ir atrás de um artista para viabilizar a publicação.

Ou de você se juntar a um artista disposto a produzir dez paginas artefinazadas, coloridas e letreiradas a troco somente da possibilidade de seu projeto se destacar dentre os 'trocentos mil' que a editora recebe para avaliar regularmente. Basicamente, nesta hipótese, algo muito parecido com o que já acontece aqui no Brasil.

Francamente, eu já tive mais disposição para isso do que tenho hoje em dia. Essa questão tem muito a ver com a questão colocada na sua pergunta anterior também, entende? O roteirista que não desenha depende visceralmente do desenhista para ver seu projeto viabilizado. E isso não tem a ver com geografia. Aqui ou lá fora é a mesma coisa. Lá, no entanto, quanto ao mainstream, só se eles te acharem.


4) Por que escrever roteiro pra histórias em quadrinhos? Quem veio primeiro, a Marcela roteirista ou a Marcela escritora?


Nunca fiz muita distinção entre uma coisa e a outra. Quando penso uma história, tenho uma enorme preocupação com a narrativa que vou trabalhar, aquela que melhor serve à história que pretendo escrever, então logo decido se será por meio de HQ ou prosa.

Ao trabalhar a composição, penso sobre os aspectos que só funcionariam  ou que funcionariam melhor  se contados graficamente e aqueles cuja imaginação visual do leitor contibuiria para a qualidade da experiência da leitura. É assim que decido o formato da história.

Para mim, escrever é a questão central. Não consigo imaginar um roteirista incapaz de trabalhar em prosa. Ao mesmo tempo, acho que todo escritor que conheça as ferramentas de um roteiro de HQ pode fazer o seu próprio. Neste sentido, vejo-me muito mais como contadora de histórias e, para tanto, tenho que me valer das ferramentas narrativas que domino para fazer minha ideia virar alguma coisa sobre a qual valha a pena perder algumas horas de leitura.

Ver a prosa ou a HQ como um meio a serviço da contação da história, sempre levando em conta a participação do leitor na experiência que o mesmo vai tirar da leitura, faz com que a experiência de escrever seja igualmente diferenciada. Nunca acreditei que HQ fosse somente balões sobre imagens, desenhos com legendas, ou coisas assim. Isso significaria engessar tudo o que há  e que há de haver!  sobre as HQs.

Por isso, em minha opinião, não há como fazer juízo de valor comparativo entre literatura em HQ. Há histórias que são mais bem contadas em quadrinhos e outras que são mais bem contadas em prosa. Simples assim. Se pretendo trabalhar as duas coisas, como contadora de histórias, cabe-me saber em qual momento usar uma ou a outra.


5) Quais obras você sugeriria para um leitor não habituado aos quadrinhos?


Eu comecei pela Mônica e pelo Tio Patinhas. Aí larguei tudo por uns anos e só redescobri a coisa toda quando li Frank Miller pela primeira vez. Mudou o paradigma. Aquilo, pra mim, era uma outra coisa feita da mesma coisa que eu já conhecia, mas que, curiosamente, nunca havia estado ali naquela coisa conhecida de antes. Entendeu? (risos)

De toda maneira, eu gosto de usar alguns títulos em minhas aulas que talvez sejam indicados para quem quer "descobrir" as graphic novels. Então, para começar, eu diria: Watchmen, Asilo Arkham, Cavaleiro das Trevas, Sandman, Sin City - A Cidade do Pecado, Os Supremos... Por aí.


6) Dada a dificuldade em se trabalhar como roteirista de quadrinhos no Brasil, você considera que os editais de fomento à cultura, como é o caso do Proac, seriam a melhor saída para quem deseja ser publicado e ainda receber algum dinheiro por isso?


Não acho que seja a melhor saída, mas acho que é a única saída no momento! Pessoalmente, sou muito grata ao ProAc. Tive três projetos aprovados, e sem esse incentivo a realização dos trabalhos estaria definitivamente comprometida, impossibilitada.

Acho que a verba poderia ser melhor, considerando o custo de produção em gráfica somado ao trabalho de composição de roteiro e elaboração da arte. Se você não tiver uma editora por trás, não sobra muito dinheiro não.

Mas o ProAc ainda é "o" grande veículo de execução de um projeto, independentemente da verba. Seu valor agregado, como iniciativa e como "agente de execução", é muito maior do que o montante de dinheiro que o programa investe. E vem fazendo uma revolução aqui em São Paulo, o que é inegável e muito louvável! Não porque esteja financiando 10 HQs por ano, mas, principalmente, porque está forçando toda uma massa de artistas a se mexer, a produzir, a criar! Isso é maravilhoso!

A média de inscrições cresce substancialmente a cada ano. Sem falar no intercâmbio que o edital promove entre as pessoas que participam. Vi situações muito legais, que moveram participantes a se ajudarem para fazer um álbum acontecer, sabe? Gente que nunca se viu, que nunca se encontrou, mas que, gratuitamente, por solidariedade, estendeu a mão a um colega de edital para ajudá-lo a resolver um problema. Isso é muito legal. É muito importante. Eu participo e apoio essas iniciativas do Estado. Acho que deveriam haver mais e em escalas maiores.


7) Cada obra sua foi desenhada por um artista diferente. A cada novo trabalho você procura novos desenhistas? É fácil realizar essas parcerias?


Cara, eu sou é a pessoa mais sortuda do mundo, isso sim! Eu debutei tendo um livro ilustrado pelo Marcelo Campos, que é simplesmente um dos maiores monstros de HQ em nosso país. O Marcelo foi o grande responsável por meu ingresso nas histórias em quadrinhos, e aí você imagina o que é ter o apoio de um cara como ele, dentro de uma escola como a Quanta Academia.

Eu acabei conhecendo e fazendo amizade com artistas que nunca nem tinha sonhado em conhecer, alguns dos quais acabaram se tornando parceiros em projetos, como foi o caso do Weberson Santiago, Renato Guedes, Sam Hart, Thiago Cruz, Jefferson Costa... 

Difícil, na verdade, é lidar com a ansiedade durante o tempo em que um projeto está sendo feito! Eu tenho a enorme sorte de ter parceiros de trabalho maravilhosos, talentosíssimos e muito inspirados. E, exatamente por essa razão, são artistas extremamente ocupados! Então é preciso esperar a "entressafra" para poder produzir algo. Eu quase morro de angústia!


8) Você também dá aulas de roteiro para quadrinhos na Quanta Academia de Artes. As pessoas vêm se interessando mais pelos roteiros de quadrinhos? Você já conseguiu identificar novos talentos?


A procura ainda é bem menor do que eu gostaria, mas vem crescendo. Acho que todo esse crescimento da produção nacional vem estimulando mais o pessoal que não desenha a compreender que é possível fazer HQ sem saber desenhar!

Eu fico muito feliz a cada nova turma, mas me surpreendo ainda com a enorme dificuldade que muitos roteiristas iniciantes têm em entender que, antes de se aventurar a escrever uma HQ, é preciso se aventurar a escrever. Ponto.

O êxito do roteiro está, antes de tudo, na composição, que é um processo bem mais complexo e que pré-existe ao próprio roteiro. O roteiro mesmo, como ferramenta de conversa entre texto e arte, é só uma parte de um processo bem maior, e essa descoberta é, acredito, a parte mais gostosa do aprendizado.

A faixa etária aí é um componente importante. Geralmente são alunos mais velhos, com mais repertório cultural, o que ajuda muito tanto na fluência do curso quanto na descoberta e lapidação destes talentos. É muito, muito gratificante ver a transformação acontecendo!

Tenho tido sorte com meus alunos, porque tenho visto talentos inegáveis despontando. Alguns deles, se tudo der certo, devem publicar este ano pela primeira vez num projeto pioneiro da Quanta. O pessoal mais novo, contudo, em sua maioria, parece que não quer saber de escrever não. O negócio deles é desenhar o Wolverine!


9) Quais são as próximas novidades da Marcela Godoy enquanto escritora, roteirista e professora?


Vamos lá! Este ano vou lançar um livro infantil, meu primeiro!, intitulado O Menino e as Estrelas, ilustrado por Weberson Santiago.

Quadrinhos: por enquanto temos A Dama do Martinelli, ilustrado por Jefferson Costa. Essa HQ era pra ter sido lançada no ano passado, mas tive que me licenciar de quase todas as minhas atividades profissionais entre dezembro de 2009 e julho de 2010, e por isso tudo foi adiado para o ano seguinte  este ano.

Tenho alguns outros trabalho sendo lançados, como minha participação no álbum Zets (Devir, 2011), de Marcelo Campos, com lançamento marcado para dia 26 de março, na Livraria Martins Fontes, e também no álbum Fim do Mundo, também da Quanta, e que deve ser publicado ainda neste ano. Estou escrevendo três roteiros no momento que serão publicados, se tudo correr bem, no ano que vem.

Como professora: turma de roteiro no segundo semestre e, o mais legal!, pretendemos lançar, no final do ano, o primeiro álbum de um projeto que integra as turmas de Roteiro e Histórias em Quadrinhos da Quanta Academia. Vai ser ótimo! Você está nele, inclusive! (risos) [N. do E.: Que ótima e surpreendente notícia!]


10) Marcela, é isso. Muito obrigado pela entrevista e espero que tenha gostado. E sucesso para o ano de 2011.


Obrigada, Léo! Parabéns pelo espaço e todo sucesso para você também este ano.