1.3.11

Entrevista com Bernardo Santana, editor da Panini

Bernardo e seu bigodinho latin lover
Bernardo Santana, jornalista, músico underground, fanzineiro e editor da Panini Comics, responsável pela revista do Superman, entre outras, nos concedeu essa entrevista e revelou algumas novidades da editora para os próximos meses, além dos rumos do mercado nacional de quadrinhos e do recente burburinho que a Nona Arte vem gerando. Mas chega de papo e vamos logo ao que interessa.

1. Há muito tempo não víamos tantos títulos em bancas como atualmente, não apenas de super-heróis, mas de gêneros variados. A que você atribui isso?

Só posso atribuir a algum aumento nas vendas, mas não tenho condição de afirmar isso com certeza. Talvez seja, na verdade, um crescimento do interesse das editoras, que veem os quadrinhos cada vez mais se tornando base pra filmes, seriados, animações, games, etc. Ou seja, o que pode ter crescido é a percepção do potencial de mercado do gênero, justamente por causa desse aumento de exposição de personagens e histórias clássicas. Também acho que o desenvolvimento das vendas de HQs em livrarias deu uma mãozinha aí.

2. Você considera que as adaptações cinematográficas de quadrinhos, tão em voga nos dias de hoje, contribuem para o aumento de leitores? Aliás, o que pode levar um leigo a se interessar por quadrinhos?

Com certeza! Tem muita gente que não concorda, mas eu não vejo como um filme que é campeão de bilheteria pode não aumentar a visibilidade de um personagem e dos próprios quadrinhos. Quanto ao que pode causar interesse, tenho comigo que é um lance de exposição mesmo. O moleque ter em casa um gibi largado num canto já basta pra causar interesse, por exemplo. Batman, Superman, X-Men, Homem-Aranha… Esses personagens são ícones da cultura contemporânea. O que falta é lembrar à galera que, ei, eles nasceram nos quadrinhos e estão lá até hoje!

3. A Panini iniciou seus trabalhos com quadrinhos aqui no Brasil com os super-heróis. Depois passou para os mangás, em seguida vieram os quadrinhos europeus, os da Turma da Mônica, depois os títulos voltados para livrarias e, por fim, as HQs adultas de selos como Vertigo e Wildstorm. Isso demonstra a versatilidade do público brasileiro? A Panini tem planos de alçar novos voos, apostando em novos gêneros?

Acho que demonstra uma pluralidade, sim. Se tiver boa divulgação e boa distribuição, as coisas dão pé por aqui. Isso apesar do nosso sistema de ensino – e, consequentemente, da desvalorização da leitura – lamentável. Quanto a novos gêneros, acredito que não vai rolar em curto prazo nada de muito diferente do que já está por aí.

4. Existem planos de retorno de publicação de materiais europeus? E quadrinhos brasileiros, a Panini pretende publicar algo?

Não pra nenhum dos dois. Pelo menos, não que eu saiba.

5. A Vertigo teve um histórico meio desastroso aqui em terras brasileiras, com diversas editoras que começaram a publicar determinados títulos e pararam no meio do caminho. Monstro do Pântano, Hellblazer, Preacher e Transmetropolitan são apenas alguns exemplos. Agora parece que a Panini vai contornar essa situação, para a alegria dos leitores. Afinal, a linha Vertigo realmente tem um público considerável aqui no Brasil? A vendagem da revista é satisfatória? E se há público, por que esse histórico de fracassos por parte das outras editoras?

Público existe, sim. O que a gente chama de “fracasso” também precisa ser relativizado. As tentativas louváveis das outras editoras de publicar material Vertigo acabaram criando um público leitor, de um jeito ou de outro. A coisa esbarrou muito em problemas de distribuição e falta de divulgação, eu acho. Quanto às vendagens, não tenho muito acesso, mas parece que vão bem, sim.

6. Com o término da linha Wildstorm nos EUA, como ficam os títulos do selo aqui no Brasil? O que podemos esperar pela frente?

Tem bastante coisa da Wildstorm que ainda falta sair por aqui. Authority, Planetary, as adaptações de games, só pra citar o que a gente mais recebe solicitação pra publicar. Aliás, o Ex Machina é da WS e vai muito bem. O sexto encadernado sai em março. Ou seja, a linha não vai ser interrompida aqui porque acabou lá fora.

7. Esta nova tendência de levar os quadrinhos às livrarias vem alterando os rumos editoriais no Brasil? Esta nova perspectiva é uma aposta por parte das editoras ou é reflexo do comportamento dos consumidores?

Com certeza muda as coisas! Eu não sou especialista pra discorrer muito sobre o assunto, mas só de ver a quantidade de títulos lançados todo mês, dá pra perceber que é um nicho interessante. Se é aposta ou resposta a uma demanda, eu chutaria que é a primeira, apesar de uma coisa acabar alimentando a outra.

8. Com o grande aumento de títulos voltados às livrarias, como ficarão as bancas de revistas? Você acredita que veremos uma queda na quantidade de produtos de bancas, aqueles com preços mais baixos e acabamento gráfico mais modesto?

Eu acredito que tem espaço pras duas coisas. A quantidade de leitor que chia quando lançamos algo em acabamento mais luxuoso, voltado pra livrarias, é praticamente a mesma daquela que nos elogia e pede mais publicações nesse modelo. Então…

9. A realidade brasileira de revistas em quadrinhos é bem distinta da que existe nos EUA. Lá são vendidos muitos espaços publicitários nas revistas e há uma grande preocupação com marketing, principalmente nos pontos-de-venda. Nunca se cogitou a possibilidade de se trilhar caminho semelhante aqui em nosso país? Há algo sendo feito para a captação de novos leitores?

Cara, não consigo responder essa com objetividade, já que os editores tem muito pouco a ver com o trabalho de marketing feito na e pras revistas. Sei que, de uns tempos pra cá, começamos a veicular alguns anúncios e que ações promocionais são feitas às vezes. Espero que elas funcionem conseguindo novos leitores! A percepção que dá pra ter é que muitas vezes recebemos emails e cartas de leitores bem jovens, o que é um sinal positivo.

10. Há algo de especial preparado para as edições de número 100 dos títulos Superman, Batman e Liga da Justiça que chegam agora em março?

A Panini preparou uma iniciativa muito legal e, se não me engano, inédita por aqui. As capas dessas revistas vão ser exclusivas do mercado brasileiro e assinadas por artistas daqui. Ivan Reis vai fazer a de Liga, Joe Prado a de Batman e Eddy Barrows a de Super. Além disso, o leitor que mandar uma arte própria (pode ser ilustração, foto, colagem, qualquer coisa… mas tem que ser feita pelo leitor!) e uma frase (de até 140 caracteres) sobre a centésima edição de alguma dessas revistas, concorre pra levar a arte original autografada de uma dessas capas. Os leitores que não ganharem, mas ficarem entre os 99 mais bem avaliados de cada publicação, levam um exemplar com capa alternativa, com as ilustrações em lápis. Pra participar, é só acessar o site da DC/Panini em web.hotsitepanini.com.br/dc.

11. Quais são as grandes novidades que podemos aguardar para 2011?

Uma coisa é certa: Preacher vai ser concluída em território nacional finalmente! No segundo semestre, deve chegar o encadernado de Álamo, último arco da série. Ainda na linha Vertigo, sai em breve Hellblazer: Pandemonium, com a volta do Jamie Delano aos roteiros das histórias de John Constantine. Pro lado da Marvel e da DC, posso dizer só que muita coisa relacionada a personagens que terão filmes em cartaz em 2011 vai sair. Então esperem material de Thor, Capitão América e Lanterna Verde a dar com pau!

12. Bernardo, muito obrigado pela entrevista. Desejo que a Panini permaneça com seu histórico de sucessos e que boas novidades continuem surgindo para todos os gostos.

Eu que agradeço em nome de todo mundo da Redação, e aproveito pra elogiar a iniciativa do blog, que está bem legal!

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