1.1.11

Entrevista com Ed Motta

Dia 1° de janeiro de 2011. Data em que seres humanos normais se dedicam a mudanças e renovações na vida. Data de cumprir velhas promessas e finalmente pôr em prática objetivos até então adormecidos. Enfim, uma boa data para se iniciar um blog de quadrinhos, ideia que estava na gaveta aguardando o famigerado "momento oportuno". Eis que ele chegou, virando as costas para a preguiça..

O primeiro post deste blog é uma pequena entrevista com o músico e compositor Ed Motta, fã confesso de quadrinhos e grande incentivador da Nona Arte.

Com frequência o artista se manifesta na mídia em prol dos quadrinhos, seja no YouTube (aqui e aqui), em entrevistas na tevê, em seu site ou na febre do momento, o Twitter.

Confira o pequeno papo com o cantor e saiba porque ele bota tanta fé nas histórias em quadrinhos, alegando ser a manifestação artística que mais o surpreende ultimamente.

Foto: divulgação
1) Recentemente você publicou o seguinte comentário em seu Twitter: "A arte que continua me surpreendendo é a HQ, porque música e cinema de hoje eu não gosto nem um pouco." Por que os quadrinhos vêm te empolgando tanto e o que há de errado com a música e o cinema atuais?

As HQs independentes norte-americanas e canadenses, dos anos 90 pra cá, mostraram muita gente ultra talentosa, como Jason Lutes, Joe Matt e divisores de águas, gênios como Chris Ware. A música de hoje nos EUA não tem um Chirs Ware, que ainda toca bem piano, conhece ragtime e música dos anos 20 e 30 como ninguém. É uma mídia de logística menos custosa do que fazer um filme e gravar um disco, fica tudo nas costas de uma pessoa. Isso é fascinante pra mim. Quadinhistas são multi-instrumentistas, gravam e mixam tudo. Isso proporciana uma liberdade artística maior, menos compromissada com o mercado, mesmo que exista uma DC e uma Marvel, que são as máquinas de repetição.

2) O que te levou a ler quadrinhos?

Um sarampo. Com sete anos ganhei de uma tia vários Tintim, e aí fiquei doido com aquilo! Nada do que passava na tevê tinha aquela mágica. Depois nos anos 80 começei a comprar na extinta loja Muito Prazer em São Paulo. Edgar Scandurra, que é um super colecionador de quadrinhos, me apresentou a loja e séries que coleciono até hoje, como Ric Hochet, Luc Orient, Bruno Brazil, entre outras.

3) História em quadrinhos e cinema têm praticamente a mesma idade. Mas por que o cinema é tão badalado enquanto muita gente ainda torce o nariz pros quadrinhos?

Eu gosto da nomenclatura inventada pelo Will Eisner, “arte sequencial”. O cinema tem feito adaptações de muita coisa dos quadrinhos: Adele Blanc Sec, a trilogia do Bilal, fora a penca de Marvel/DC de sempre. Existe um desconhecimento dessa arte por grande parte das pessoas, que muitas vezes pensam que um best-seller de livraria de aeroporto teria mais densidade do que um Hugo Pratt.

4) Quais foram o lançamentos de 2010 que mais te empolgaram?

A adaptação do Darwin Cooke para o Parker de Richard Stark; o The Squirrel Machine do Hans Rickheit, que saiu em 2009, mas li e comprei esse ano; West Coast Blues, do Tardi, de 2009 também; e Asterios Polyp, do Mazzucchelli. Tem mais coisa... Eu compro muita HQ pelo correio. Claro que não posso esquecer do ACME Novelty Library 20, novo do Chris Ware.

5) O mercado brasileiro de quadrinhos ainda está muito aquém do francês, americano, japonês, belga, coreano, entre outros. O que nos falta e quais são as perspectivas?

Não sei... Tem muita coisa boa. Tenho comprado bastantes nacionais, os novos e os mestres, como Marcatti. O Mutarelli é genial e ainda transita em outras áreas. Tem um albúm que o traço lembra Daniel Torres, de uma HQ meio inspirada no Amigo da Onça. Tentei procurar aqui e não me lembro.

Foto: Robson Abreu
6) Você nunca produziu quadrinhos, seja desenhando ou escrevendo?

Sou um apreciador e colecionador. A música já dá um trabalho danado. Mas não é por isso, é porque não sei mesmo desenhar nem fazer roteiros. Se soubesse, eu faria. Se bem que tem uma chuva de bicões que não sabem desenhar e fazem HQs, não extamente de sucesso, mas atrapalhando o indepentente, a vanguarda de verdade. Na música é o mesmo, pra cada bandinha incompetente indie tem um músico de verdade sem ter o que comer.

7) Quais são as novidades em sua carreira para este novo ano que se inicia?

Por enquanto nada diferente, mas daqui a pouco a cabeça surge com algo. Agora é període de sombra, água fresca e muitos discos, filmes em DVD e HQs pra ler.

3 comentários:

Unknown disse...

Muito legal esse papo!! Curti!!
Bjs! @thabiba

Vernardo Santana disse...

Gostei também, tru!
Muitas referências pra caçar por aí!

stéphano bahia disse...

3) História em quadrinhos e cinema têm praticamente a mesma idade. Mas por que o cinema é tão badalado enquanto muita gente ainda torce o nariz pros quadrinhos?
(minha opinião, acredito que os que torcem o nariz veem a HQ/mangá como "coisa pueril" e "história mal feita")


5) O mercado brasileiro de quadrinhos ainda está muito aquém do francês, americano, japonês, belga, coreano, entre outros. O que nos falta e quais são as perspectivas?
(minha opinião: falta de incentivo cultural. geralmente as + fortes escolas de HQ estão nos países ricos (com + recursos). )
Curioso que Mauricio de Sousa é até hoje o quadrinista + bem sucedido do país.