16.2.11

Entrevista com o ator e (ex?) apresentador Fábio Azevedo

A TV Cultura possuía em sua programação um interessante programa, com linguagem jovem, apresentado por jovens e com conteúdo interessante aos jovens (e aos mais velhos também, já que não sou mais nenhum adolescente). Dentre as pautas do Login, os quadrinhos eram assunto frequente, provavelmente pelo notório interesse de um de seus apresentadores pelo tema, o também ator Fábio Azevedo. Entretanto, o programa infelizmente chegou ao fim. Coisas da televisão e sua busca incansável por audiência.

Nesta conversa com o Fábio pudemos saber quais as razões que levaram ao fim do programa e, é claro, um pouco da ligação do ator com os quadrinhos. Vamos a ela.

1. Até o começo da última década, publicações em quadrinhos eram bem restritas nas bancas e quase inexistentes nas livrarias brasileiras. Com tanta escassez de exposição, o que te levou a se interessar por quadrinhos, já que você vivenciou essa época?

Eu comecei a me interessar por quadrinhos muito cedo. Na verdade, aprendi a ler com A Turma da Mônica. Felizmente, as publicações do Maurício de Souza sempre tiveram um lugar garantido nas bancas de jornal e, espero, sempre terão.

2. Qual foi a HQ que mais te marcou, aquela que você se lembra com carinho até hoje?

Acho que foi a primeira HQ “adulta” que ganhei, O Cavaleiro das Trevas, em 1989. Era uma edição encadernada da editora Abril. Lembro de ficar chocado com a HQ. A referência que eu tinha de Batman era a série cômica da tevê, com o Adam West e o desenho Super Amigos, então eu não imaginava o Batman daquele jeito. Li e reli essa HQ muitas vezes desde então.

3. Como veículos de massa, como é o caso dos quadrinhos, cinema e televisão, podem contribuir efetivamente para o crescimentos cultural da população?

Todas essas mídias são armas extremamente poderosas na propagação da cultura. Como disse, aprendi a ler com os quadrinhos. O grande problema é fazer esses veículos culturais chegarem até a população em geral. O preço do cinema, shows, teatro, livros e quadrinhos não é acessível para todos. No caso da televisão, apenas uma pequena parte da programação é direcionada à cultura.

4. No Login vocês contavam com a colaboração do pessoal do Omelete, que é muito envolvido com quadrinhos, e você sempre incluía assuntos relacionados às HQs na pauta do programa. Você acredita que essa exposição na tevê possa atrair novos leitores ou ela somente interessa a quem já curte quadrinhos há um bom tempo?

Acredito que toda discussão sobre quadrinhos é válida, pois além de ser do interesse de quem já gosta de HQs, pode sim trazer novos leitores. Quando o tema é tratado em programas como o Login, que era muito direto e sem preconceito ao lidar com os assuntos, acredito que todos saem ganhando.

5. Como você encara essa atual fase que o mercado de quadrinhos no Brasil vem vivendo, com maior atenção da mídia, boa variedade de títulos em bancas e livrarias, surgimento de novas e boas editoras, relevante produção nacional e crescimento do interesse no meio acadêmico?

Creio que esse crescimento é inevitável. O Brasil tem artistas premiados no mundo todo e trabalhos com grande reconhecimento internacional. Nosso país sempre teve grandes desenhistas e nunca teve roteiristas de renome. Isso também está mudando. Acredito que o mercado interno ainda não seja uma maravilha, mas, ainda bem, parece estar caminhando na direção certa. Ferramentas como o ProAC também ajudam a divulgar o trabalho de novos talentos.

6. Dos últimos quadrinhos que você leu, quais você recomendaria?

As nacionais Cachalote, Memória de Elefante e Bando de Dois. Também vale a pena acompanhar as gringas Y- O último homem e Ex-Machina.



7. Você acha que essa grande produção de filmes baseados em quadrinhos, com blockbusters, filmes cult e animações, pode resultar em aumento do número de leitores? Há quem diga que só se aumenta a venda de produtos licenciados, enquanto que a venda de revistas permanece quase inalterada. 

Cara, pra ser bem sincero, Hollywood está sempre atrás da próxima franquia gigante. Atualmente, eles encontraram alguns ovos de ouro nos quadrinhos e isso só fez o interesse nessas adaptações crescer. Acho que iniciativas como a da Marvel, que ao invés de vender seus personagens para os estúdios, criou um “braço” da empresa voltado exclusivamente para o cinema, são a melhor solução para evitar bizarrices como Quarteto Fantástico, Motoqueiro Fantasma e outras que considero verdadeiras porcarias.

Roberta e Fábio, do extinto Login. Foto: Jair Bertolucci.
8. Por que o Login acabou?

A TV Cultura está passando por uma profunda reestruturação. Infelizmente o programa Login, aparentemente, não cumpriu as metas e objetivos esperados pela TV. Essa é a razão de seu término.

9. Quais são seus próximos projetos? Vai permanecer na tevê, mais especificamente na Cultura?

Meus próximos projetos são teatrais. Pretendo usar esse ano para produzir duas montagens teatrais para  ano que vem. Fora isso, darei aulas de teatro no GTP, na USP. Meu contrato com a TV Cultura acabou, portanto, por enquanto, não vou voltar. Caso não surja um projeto bem legal, não tenho intenções de voltar para a TV.

10. Fábio, obrigado pela entrevista e espero que você continue incentivando a leitura de quadrinhos.

É sempre um prazer falar de HQs. Infelizmente o Login acabou, mas acredito que o interesse pelos quadrinhos não vai acabar nunca.

2 comentários:

Brinacando de fazer arte disse...

Parabéns pela entrevista Fabinho...como sempre um arraso!!!

Vanessa Santos J. disse...

Poxa, queria mais informações sobre o Fábio, ele é um ótimo ator e aapresentador... Gostaria de poder vê-lo mais! Saudades...