25.1.12

O mercado editorial brasileiro: crescendo em 360°

O mercado editorial brasileiro vive momentos de mudanças. E, vale ressaltar, mudanças benéficas para o público e para as editoras, que deverão rever alguns conceitos para se adequar ao mercado e às novidades advindas com a aclamada Era da Informação.

O governo brasileiro vem tomando diversas medidas para o incentivo da leitura no país, como a isenção de impostos para livros ‒ que, em breve, também deve se estender aos e-books e e-readers ‒, o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Tais iniciativas estão agitando o mercado editorial, fazendo com que editoras de médio e pequeno porte passem a investir em livros didáticos e infanto-juvenis na tentativa de abocanhar uma fatia do grosso investimento voltado à distribuição de livros para as escolas públicas.

Houve um aumento no índice de leitura no Brasil na última década, que subiu de 1,8 para 4,7 livros lidos por habitante/ano. Isso tirou o Brasil da vergonhosa penúltima posição no índice de leitura per capita na América latina. Porém, a situação ainda está muito longe do ideal. Hoje estamos no 14º lugar, abaixo de países economicamente menores que o Brasil, caso do Paraguai, que registra índice de 8 livros por habitante/ano.

Há também o Programa do Livro Popular (PLP), que está em estágio avançado devido ao envolvimento pessoal da presidente Dilma Rousseff, que se predispôs a tomar a frente do programa em decorrência de sua dimensão e importância. A função do projeto é baratear os preços dos livros, tornando-os acessíveis a todas as classes sociais. Visando permanência a longo prazo, com investimentos e metas para até 2020, o governo pretende realizar parcerias para a obtenção de grandes tiragens, ampliação do número de pontos de venda e a realização de uma grande campanha de comunicação com os setores envolvidos e os consumidores, sempre tendo como foco livros a preços bastante acessíveis. Espera-se a criação de um catálogo com pelo menos 1.000 títulos oferecidos pelo valor de até R$10,00, com um número mínimo de 1.000 pontos de venda até 2012.

Com relação ao conteúdo dos livros, tudo depende do interesse do mercado. Todos os gêneros serão contemplados pelo programa, com exceção dos didáticos. Isso será uma ótima oportunidade para todo o setor, inclusive o de histórias em quadrinhos. Com a ampliação das tiragens, as editoras irão adequar diversos títulos de seus catálogos para que não ultrapassem o valor limite de R$10,00, já que é preferível vender grandes quantias a esse valor do que oferecê-los por cerca de R$50,00 e correr o risco de ter encalhes ou uma demora para o escoamento de toda a tiragem. Ou seja, podemos esperar muitos títulos de qualidade, já que a venda por parte das editoras é certa, já que o Governo irá se encarregar de comprar tiragens inteiras. E o melhor de tudo: a primeira etapa do programa, iniciada em outubro último, realizou o cadastramento das bibliotecas, dos pontos de venda e dos livros pelas editoras; e agora em 2012 serão iniciadas as compras integrais das edições cadastradas.

Outra medida que tem dado o que falar, principalmente no universo das histórias em quadrinhos, são os editais de fomento à produção cultural. Hoje existe um grande número de ferramentas governamentais que também são ligadas a iniciativas privadas que investem em projetos e talentos, como é o caso do Programa de Ação Cultural (ProAc), que visa “Apoiar e patrocinar a renovação, o intercâmbio, a divulgação e a produção artística e cultural no Estado”, conforme descrito no site do programa. O ProAc seleciona alguns projetos e os financia para serem publicados e distribuídos em parcerias com algumas editoras. Como a realidade no mercado de quadrinhos é bem diferente dos livros tradicionais, existem autores que tentam driblar essa situação fazendo bom uso do programa, sempre submetendo novos projetos e publicando suas obras ano após ano. Alguns títulos fizeram bastante sucesso entre público e crítica, como é o caso do premiado Bando de Dois (Zarabatana Books), de Danilo Beyruth.

Em razão desses incentivos concedidos ao mercado livreiro somado ao alardeado crescimento econômico nacional, muitas editoras estrangeiras estão aterrissando em nosso país, principalmente as europeias, já que a economia por lá não anda muito bem das pernas. É o caso das portuguesas Leya, Babel e Tinta-da-China, que correram pra cá em busca de investimentos certeiros que são extremamente facilitados em decorrência do idioma comum entre os dois países. Tivemos também a compra de 45% da Companhia das Letras, uma das maiores do Brasil, pela britânica Penguin Books, umas das maiores do mundo. A negociação tem como foco o mercado digital e paradidático pelas razões já explicitadas.

Em pesquisa realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em conjunto com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), constatou-se que o crescimento do setor editorial brasileiro em 2010 foi de 8,12%. Em decorrência disso, estão surgindo diversas novas livrarias, muitas das pequenas estão crescendo e as grandes redes vêm se expandindo, mostrando que as megastores não estão fadadas à extinção a exemplo da realidade estadunidense.

Além disso, os brasileiros estão lendo mais. A mesma pesquisa revelou que o número de exemplares vendidos cresceu 8,3% se consideradas apenas as vendas ao mercado e 13,12% se somadas as vendas ao governo e entidades sociais. E desde 2004 o preço dos livros vem apresentando quedas sem que houvesse queda na receita das editoras. Em 2010 o preço médio dos livros obteve redução de 4,42% e de 4,91% considerando somente as vendas ao mercado. Em se tratando de varejo, houve uma queda acumulada no preço médio real do exemplar de 34% desde 2004. Ótimo para o bolso dos leitores!

A pesquisa registra ainda que existem cerca de 750 editoras ativas no Brasil, sendo que apenas 498 delas se enquadram no critério internacional estabelecido pela Unesco para caracterização de uma editora, que diz que uma empresa deve editar ao menos cinco títulos por ano com produção mínima de 5.000 exemplares/ano.

Dentre os títulos publicados, os de caráter didático lideram o mercado, com 45,72% do volume total de vendas, seguido pelos 10,3% dos livros religiosos. Em seguida estão os livros de literatura, cujos números são os seguintes: juvenil com 8,89%, adulta com 8,05% e infantil com 5,38%, totalizando 22,32% de participação de vendas de livros de ficção.

Há também os supracitados e-books, que virão com tudo agora em 2012. No ano passado, diversas editoras anunciaram aumentos astronômicos na venda de livros digitais, chegando a cifras que ultrapassaram 1000%! Além disso, a evolução dos e-readers e tablets segue de vento em popa, como é de praxe na maioria dos setores tecnológicos atualmente. Com isso, os preços também vêm caindo e, dentro em pouco, teremos leitores digitais a preços acessíveis à maioria dos consumidores. Quem não investir no digital certamente vai ficar pra trás, e as editoras estão correndo para se adaptar a esta nova realidade.

Com o mercado aquecido, os autores iniciantes estão botando as mãos na massa para publicar seus materiais, com a oferta econômica das autopublicações ou as publicações sob demanda, que estão sendo oferecidas por um número cada vez maior de editoras, geralmente de pequeno porte. Há também a constante emergência dos blogs, que são a forma mais barata e rápida dos escritores disponibilizarem suas produções ao público. A relevância dos blogs é tamanha que editoras passaram a garimpar material de qualidade para publicar, além de oferecer parcerias com os blogueiros para divulgar lançamentos e novidades. E entre tantos blogs vem surgindo novas formas de composição literária com crescente convergência de mídias, unindo texto à música, imagens, histórias em quadrinhos, interatividade... Enfim, o céu é o limite nesta Era Digital, que oferece experiências literárias para todos os gostos e gerações.

O aumento exponencial de público em eventos especializados como as Bienais do Livro, a Festa do Livro da USP, a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), A Fliporto, a Feira do Livro de Porto Alegre, entre outros, e o crescente número de publicações relacionadas, também são indicadores de que o Brasil realmente pretende incentivar a leitura e a produção de livros no país. Seja por questões econômicas ou culturais, o povo ‒ ou o consumidor, como queira ‒ há de receber algum benefício, e isso é louvável, já que o crescimento se dá por todos os lados, em 360 graus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como sempre, uma postagem útil, completa e bem escrita em seu blog.